Tipo de trabalho: Dissertação de MEstrado
Instituição: Faculdadde de Filosofia, Letras e Ciências HUmanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP)
Ano: 2007
Autora: Daniela de Souza Onça
Contato: tdefflch@usp.br
Resumo:
Esta pesquisa tem por objetivo investigar a construção do discurso moderno envolvendo as mudanças climáticas globais. Tal discurso, que podemos observar em diversos tipos de publicações, eventos e atitudes, apregoa em geral a noção de que as mudanças climáticas globais já são uma realidade auto-evidente, com efeitos devastadores mundo afora, com um aquecimento progressivo e provocadas pelo homem, por meio do lançamento indiscriminado de poluentes na atmosfera. Sendo assim, fazem-se apelos apaixonados pela preservação da saúde do planeta, pela redução da emissão de poluentes, pois do contrário sofreremos graves conseqüências em nossas vidas, por exemplo, na agricultura, no abastecimento de água, no conforto térmico e na disseminação de doenças. Entretanto, no interior da comunidade científica, ao contrário do que possa parecer à primeira vista, não existe um consenso quanto às causas, conseqüências e mesmo quanto à realidade do aquecimento global. Constrói-se, dessa forma, um discurso que toma hipóteses por certezas, doutrinador pelo medo e, principalmente, que não rompe com as bases da concepção de mundo que gerou a degradação ambiental. Idealiza a possibilidade de uma harmonia entre a sociedade e natureza mas, ao mesmo tempo, conserva o mesmo tipo de racionalidade com relação a medidas mitigadoras e mantém seu utilitarismo - devemos proteger o meio ambiente porque o homem necessita dos recursos naturais para sobreviver. Enfim, faz o "jogo do inimigo", pois o apelo às graves conseqüências do aquecimento global é de forte impacto e tem maiores chances de agregar partidários e surtir algum efeito prático de mitigação. Acreditamos que, embora tal atitude possa até funcionar, não é o melhor caminho para a construção de uma autêntica consciência ecológica por manter fundamentalmente inalterada a mentalidade criticada. Sugerimos, assim, a construção de um argumento ético, a saber, o do valor intrínseco da vida e necessidade de respeito por ela, ao invés de insistir numa argumentação utilitarista e amedrontadora. A proteção à natureza não necessita de falsas premissas climáticas para sustentá-la, pois sua necessidade é auto-evidente.