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MDL mercado de carbono
2007-11-12
O verde é a cor oficial de um mercado em expansão em Santa Catarina: o dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL). Ações que buscam reduzir a emissão de gases poluentes – gás carbônico, o CO2, e outros 90 elementos – podem render milhões de reais com os chamados créditos de carbono (em inglês, Certified Emission Reduction).

Futuro
Santa Catarina tem cerca de cem projetos prontos ou em fase de elaboração, estima o governo estadual

Ainda há muito a explorar. “Só 15% da capacidade do Estado é aproveitada. Temos um potencial enorme pela frente”, afirma o consultor Roulien Vieira, um dos pioneiros na área em Santa Catarina. Ele é mestre em economia ambiental e operador de bolsas ambientais, que negociam créditos pelo mundo.

Esses créditos valem dinheiro vivo na Organização das Nações Unidas (ONU) ou num dos mercados voluntários, criados por empresários. Além do retorno financeiro, a empresa sacode a bandeira da consciência ambiental: o chamado marketing verde.

Ano passado, o negócio já ocupava o 20º lugar na balança comercial brasileira, à frente de setores como o vestuário. No mundo, calcula-se que há US$ 600 bilhões (R$ 1,1 trilhão) disponíveis para esses projetos.

A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico e Sustentável estima que há cerca de cem projetos em fase de elaboração ou concluídos em Santa Catarina – mais que o dobro de dois anos atrás. No Brasil, são 230 aprovados, segundo o Ministério de Ciência e Tecnologia. Empresários da indústria que exporta alimentos e suínos agora colocam na prateleira virtual ar limpo, tipo exportação. Quem faz tratamento de dejetos e detém pequenas hidrelétricas também está de olho. São essas, segundo especialistas, as áreas com maior potencial no Estado.

E há mais interessados. Na semana passada, a Federação das Indústria do Estado de Santa Catarina (Fiesc) fez um evento aberto, em parceria com a Organização de Comércio Exterior do Japão (Jetro). Depois, num curso prático, as 50 vagas se esgotaram. “Havia gente suficiente para preenchermos outra turma”, conta José Lourival Magri, presidente da Câmara de qualidade ambiental da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc).

Também na última semana, Florianópolis sediou o 2º Encontro Nacional de Créditos Ambientais. Centenas de pessoas estiveram lá. São investidores e técnicos interessados na oferta, principalmente, de japoneses, dispostos a pagar milhões de euros por projetos bem-sucedidos. O dinheiro serve para cumprir o Protocolo de Kyoto, acordo internacional assinado em 1997, para reduzir a emissão de gases poluentes.

“Se você tiver créditos para vender, vão bater na sua porta”, brinca Mara Mendes. Catarinense de Rio do Sul, doutora em engenharia ambiental urbana pela Universidade de Tóquio, ela ficou sete anos estudando no Japão. Hoje, trabalha para a Mitsubishi UFJ Securities (MUS), multinacional que elabora projetos sobre mecanismos de desenvolvimento limpo. Roulien Vieira, que negocia créditos pelo mundo, concorda: “É um jargão, mas se aplica: há dinheiro, mas faltam bons projetos”.

Irani Celulose deixa de usar gerador a óleo
A Irani Celulose, com unidade em Vargem Bonita, no Planalto Serrano, investiu R$ 23,6 milhões em uma usina de co-geração. O projeto eliminou o consumo de 4,6 mil toneladas de lenha por mês e aposentou sete geradores, a diesel e a outro tipo de óleo, o BPF. “Hoje, 81% da energia utilizada é originada em fontes renováveis. O que é comprado tem como matriz principal as hidrelétricas”, diz o diretor-administrativo financeiro, Odivam Carlos Cargnin.

Também na geração de energia, as pequenas hidrelétricas têm espaço para crescer. “Usamos apenas 20% da nossa capacidade, contra cerca de 95% dos japoneses”, compara José Lourival Magri, da Fiesc. Uma dessas, a BT Geradora, fica no Rio Grande do Sul, mas tem dedo catarinense: metade dos acionistas é do Vale do Itajaí.

A minihidrelétrica é um exemplo de que o pequeno investidor também tem espaço. São cerca de 30 sócios, que não fizeram empréstimo para investir e agora dividem os lucros. A engenheira ambiental Mara Mendes diz que consórcios são boa alternativa para viabilizar projetos menores. “O importante é ter no grupo líderes de empresas que entendam da tecnologia e desse mercado”, aconselha.
 
"Só 15% da capacidade do Estado é aproveitada. Temos um potencial enorme." Roulien Vieira, operador de bolsas ambientais.

"O importante é ter na empresa líderes que entendam da tecnologia e desse mercado."

O projeto deve ser de eficiência energética ou melhoria ambiental. O crédito de carbono seria um rendimento adicional.Mara Mendes, engenheira ambiental

Recompensa que vem com o vento
Duas usinas eólicas de Água Doce, no Meio-oeste, foram as primeiras da América Latina a obter a certificação na ONU em sua área. Hoje, são apenas cinco no País de acordo com o Protocolo de Kyoto. Investiram R$ 44 milhões na construção e hoje vendem a energia gerada com o vento para as Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc).

Segundo a Central Nacional de Energia Eólica, as duas usinas deixam de emitir, por ano, 20 mil toneladas de gás carbônico. Quando vendidas, renderão cerca de R$ 1 milhão por ano. A dificuldade, segundo a diretora-executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica, Ivonice Campos, é o custo de implantação do sistema.

Um impulso para energias renováveis
Doutor em planejamento energético pela Universidade de Campinas (Unicamp), em São Paulo, José Henrique Gabetta avisa: “O mercado de créditos de carbono oferece riscos como qualquer outro”. Isso porque, financeiramente, o retorno pode ser menor que o investimento. Para ele, a função principal do crédito de carbono é aumentar a viabilidade dos empreendimentos com energias renováveis, como hidráulica, biomassa e eólica.

A engenheira ambiental Mara Mendes ressalta que a aprovação do projeto exige tempo e investimento. “O ideal é começar com a documentação para obtenção de créditos de carbono antes mesmo de entrar na parte prática do projeto”, explica. A consultora lembra que é raro montar um plano apenas para gerar créditos de carbono. “O projeto deve ser de eficiência energética ou melhoria ambiental que seja viável por si só. O crédito de carbono seria um rendimento adicional, um plus”, acrescenta.

Outra regra: uma coisa é dever ambiental, exigida por órgãos como a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Fatma). A outra é ter um desempenho acima do exigido por lei. “Depositar corretamente o lixo é obrigação. Mas se gerar energia a partir do gás desse local, você tem direito a crédito”, diz Roulien Vieira, operador de bolsas ambientais. Aplicada pela Prefeitura de São Paulo, essa solução engatinha em Santa Catarina. Joinville e Florianópolis têm projetos. As cidades estão bem acima da faixa dos 300 mil habitantes – mínimo necessário para desenvolver um projeto como esse.

As duas cidades mais populosas de SC buscam se adequar às normas da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas essa não é a única alternativa. Na Europa e nos Estados Unidos, há dezenas de mercados voluntários. “A tendência é que eles ganhem força nos próximos anos”, afirma Flávio Menezes, advogado paulista da Menezes e Lopes, empresa especializada na área. Citando informação do site norte-americano Sonja Btuzengeiger, voltado ao setor, ele aponta que, em 2005, nove milhões de toneladas de créditos (85% do total) foram negociados por essas vias.

Tractebel e Sadia já têm retorno
Algumas empresas em Santa Catarina já marcaram gols. A Sadia Alimentos deve negociar, nos próximos dez anos, entre seis e dez milhões de toneladas de carbono. Em seis meses, a empresa desenvolveu um dos potenciais que os técnicos consideram mais adequados ao Estado: biodigestores. Na primeira fase, o gás metano produzido por dejetos é queimado e vira gás carbônico cerca de 21 vezes menos poluente. A jogada segue com o uso de geradores de energia elétrica, a partir do gás que sobra da biodigestão.

A empresa conseguiu financiamento de R$ 60 milhões para aplicar o projeto. Cerca de três mil produtores cooperados participam ou vão participar.

A Tractebel Energia, que detém usinas termelétricas (a carvão), faturou R$ 8,3 milhões por 190 mil toneladas de créditos vendidas à companhia energética japonesa Chugoku Electric Power. “Corresponde a 70% dos créditos de carbono gerados pela nossa unidade de Lages entre novembro de 2004 e maio de 2006”, conta o gerente de desenvolvimento de negócios da Tractebel Energia, Carlos Gothe. Há outras 750 mil toneladas negociadas com o Prototype Carbon Fund (PFC), fundo ligado ao Banco Mundial.

A Tractebel teve de investir R$ 500 mil no processo de certificação da redução da emissão, na ONU. Para entrar nesse mercado, a empresa construiu uma nova usina em Lages, no Planalto Serrano, em 2003, que consumiu mais R$ 80 milhões. A novidade: em vez de carvão, queima restos de árvores comprados de fábricas de papel e madeireiras da região. “A madeira decomposta viraria metano e iria para a atmosfera. E também evitamos emissão do dióxido de carbono gerado por combustíveis fósseis como o carvão “, diz Carlos Gothe.

(A Notícia, 12/11/2007)


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