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biocombustíveis passivos dos biocombustíveis
2007-11-12
A fabricação de combustíveis a partir de vegetais apresenta-se na Espanha como um negócio fortemente apoiado por empresários, mas muito criticado por organizações ambientalistas devido aos seus efeitos nocivos sobre a produção de alimentos. Bill Glover, diretor da empresa aeronáutica norte-americana Boeing, afirmou há alguns dias em Madri que dentro de cinco ou 10 anos o uso de biocombustível na aviação comercial será viável e que isso ajudará a reduzir em 50% as emissões de dióxido de carbono (CO²) no transporte aéreo. Glover acrescentou que este setor produz 1,5% das emissões de CO² da União Européia, segundo dados de 2006, enquanto o terrestre chega a 52,8%. O executivo explicou que isso ocorre porque um automóvel com dois ocupantes consome, em média, seis litros de combustível por quilômetro, enquanto um avião com 80% de sua lotação não chega a esse consumo.

A importância que a Espanha dá ao biocombustível tem um testemunho na multinacional Abengoa, que acaba de inaugurar nos Estados Unidos uma unidade-piloto para sua produção energética, prevista para produzir 50 milhões de litros de bioetanol ou álcool combustível substituto da gasolina, mas, utilizando uma biomassa não apta para a cadeia alimentar, segundo um porta-voz da companhia. Claro que sua produção começará com matérias-primas convencionais. Para levar este projeto adiante, a Abengoa assinou em fevereiro um acordo com o Departamento de Energia dos Estados Unidos, que financiará a metade dos investimentos. Nas experiências previas, a empresa produziu combustível a partir da palha de trigo, resíduos florestais e restos de comida vegetal.

Javier Salgado, presidente da Abengoa, afirma que em uma década o etanol substituirá maciçamente a gasolina e que será 40% do total do consumo mundial de combustível. Por outro lado, uma das instituições agropecuárias mais fortes da Espanha, a Associação Agrária de Jovens Agricultores (Asaja), questiona a produção de biocombustíveis a pediu, no dia 31 de outubro, que seja inspecionada a produção de biodiesel a partir do girassol, porque acredita-se que não há separação entre o importado para uso alimentar e o destinado à indústria. O secretário-geral da entidade, José Maria Fresneda, disse à imprensa ser possível que se esteja utilizando óleo importado para produzir biodiesel, recebendo subsídios públicos “do dinheiro que todos os contribuintes pagam para a Fazenda”. O grave - disse - é que essas empresas não incentivarão o cultivo na Espanha, “porque quando tiverem a infra-estrutura produtiva montada não se importarão e trazer óleo de terceiros países”.

Falando de terceiros países, merece ser mencionado o acordo assinado no final de outubro entre Brasil e Espanha para desenvolvimento de projetos conjuntos para a produção de carburantes alternativos ao petróleo e também dirigidos a fomentar maior economia energética, segundo o ministro da Indústria, Comércio e Turismo espanhol, Joan Clos. O primeiro passo desse acordo é a criação de um grupo de trabalho que estudará a possibilidade de unir as experiências dos dois países nesse setor, destacando-se a “grande experiência” do Brasil, segundo Clos, que visitou o País há algumas semanas, quando se reuniu com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também participou de uma reunião com empresários, onde destacou que a Espanha se converteu no segundo investidor no Brasil, somando US$ 40 bilhões.

Mas, desde a sociedade surgem fortes críticas aos biocombustíveis. Marisa Kohan, porta-voz na Espanha da organização não-governamental Intermón Oxfam, disse à IPS que os planos espanhóis e do restante dos países da União Européia para aumentar o uso de biocombustíveis “podem ter conseqüências muito negativas para algumas das nações mais pobres do planeta”. Se a UE cumprir seus projetos de que pelo menos 10% dos combustíveis para veículos utilizem biocombustíveis até 2020, o consumo atual será multiplicado por 10. Nesse caso o bloco teria de importar biocombustíveis produzidos a partir de cultivos como cana-de-açúcar e óleo de palma procedente de países em desenvolvimento. Entretanto, isso significaria que nesses países a produção de matérias-primas para biocombustível expulsaria populações pobres de suas terras, destruindo seu modo de vida e aumentando a exploração de seus trabalhadores, disse Kohan.

Um informe da Intermón Oxfam indica que Brasil, Índia, África do Sul e Indonésia poderiam utilizar dentro de 20 anos 5,6 milhões de quilômetros quadrados de terra para a produção de biocombustíveis, uma superfície equivalente a 10 vezes a da França. O documento cita Abet Nego Tarigan, diretor-adjunto da Sawit Watch (ONG indonésia para a proteção de plantas autóctones), que afirmou que “as decisões sobre biocombustíveis tomadas na Europa afetam diretamente milhões de pessoas nesses países. Isso porque “na busca implacável da UE pelo “ouro” biocombustível grandes companhias produtoras de óleo de palma estão expulsando sem dó comunidades das terras que cultivaram durante gerações”. Por isso, “a política proposta pela União Européia só vai piorar a situação, levando mais gente à pobreza e concentrando a terra nas mãos de uns poucos”, acrescentou.

(Por Alicia Fraerman, IPS, 09/11/2007)



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