O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, afirmou sábado estar impressionado com os esforços do governo brasileiro na produção de energia renovável e que o mundo ainda não entendeu os esforços do País na produção de bioenergia. "O Brasil, efetivamente, é um gigante verde discreto que lidera a produção de energia renovável e é uma das poucas nações que fazem bioenergia em larga escala", disse Ki-moon, logo após visitar a Usina Santa Adélia, em Jaboticabal (SP), no seu primeiro compromisso oficial no Brasil.
A visita faz parte de uma maratona do secretário-geral da ONU para, segundo ele, aprender sobre os impactos das mudanças climáticas no mundo, até a conferência sobre o clima, prevista para ocorrer no início de dezembro, em Bali, Indonésia. "Em Bali os chefes de Estado tentarão chegar a uma nova legislação sobre o clima e a estrada para Bali passa pelo Brasil", disse.
Apesar de elogiar a produção de biocombustíveis no Brasil, segundo maior produtor de etanol mundial, o secretário-geral da ONU cobrou do governo e do setor produtivo a "responsabilidade de fazer um balanço entre os custos sociais e os benefícios da produção dos biocombustíveis", numa referência às denúncias de trabalho forçado, principalmente dos cortadores de cana nas lavouras.
Questões ambientaisKi-moon disse ainda que há uma preocupação em relação às questões ambientais, principalmente com o desmatamento e a queima da cana-de-açúcar, necessária para a colheita manual da cultura utilizada na produção de álcool. O secretário-geral da ONU relatou ainda a preocupação com o avanço da cana sobre áreas de lavouras de grãos, bem como a utilização de milho para a produção de etanol, no caso dos Estados Unidos. "É preciso que haja um grande debate para discutir a questão da segurança alimentar e os biocombustíveis", afirmou.
O presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Marcos Jank, considerou que a visita de Ki-moon serviu para que o setor produtivo pudesse mostrar os esforços em relação às questões ambientais e alimentares. "É uma visão muito mais positiva do que o último relatório da ONU, que fazia várias críticas em relação às questões alimentares", afirmou Jank.
Sobre a participação dos Estados Unidos, que não aderiram ao Protocolo de Kyoto, como signatários de um possível protocolo mundial climático de Bali, Ki-moon deu a entender que as conversas, na última Assembléia Geral da ONU, em setembro, podem ter influenciado na posição dos norte-americanos. "O mundo reconheceu a importância de todos juntarem os esforços e todos vão aceitar, pois o aquecimento global não respeita fronteiras e nem países desenvolvidos ou em desenvolvimento", concluiu.
Conselho de SegurançaAo ser indagado pelos jornalistas sobre uma possível participação do Brasil no Conselho de Segurança da ONU como membro permanente, Ki-moon adotou a diplomacia e disse que o tema deve ser debatido entre os integrantes do órgão. Ele afirmou, no entanto, que pode atuar como um mediador nas conversas.
(
A Tarde, 11/11/2007)