DUAS BOAS notícias chegaram logo depois de ter eclodido o problema do gás. A primeira diz respeito à possibilidade de a Bolívia aumentar sua capacidade mediante ajuda do Brasil. A segunda, já comentada nesta coluna no dia 30/09/07, foi a descoberta de grandes reservas de gás na bacia de Santos graças à invejável competência dos técnicos da Petrobras.
Na semana passada, a Petrobras foi obrigada a reduzir o suprimento de gás no Rio de Janeiro e em São Paulo para garantir o abastecimento das usinas termelétricas, que têm prioridade máxima por força de um contrato. E tudo isso aconteceu no momento em que o barril de petróleo chegou perto dos US$ 100!
As notícias acima anunciadas merecem festejo. Mas a festa será maior se são Pedro garantir um bom regime de chuvas em 2008, porque as atuais usinas hidrelétricas, com a forte seca, terão dificuldades para sustentar os tão desejados 5% de crescimento ao ano.
Mesmo com os novos investimentos, creio que a Bolívia não vá ter condições de aumentar o suprimento imediatamente. A exploração do gás da bacia de Santos, igualmente, só trará bons frutos a médio prazo. Outras medidas foram aventadas e precisam ser consideradas seriamente. A principal é economizar energia em todos os sentidos. Abaixo o desperdício!
Outra medida é adaptar as usinas e o maquinário industrial para um sistema "flex" (como o dos veículos), para poderem ser operados com gás e com óleo combustível. Há ainda a possibilidade de importar o GNL (gás natural liquefeito) por navio.
Entretanto, são providências que custam caro e que só darão resultados a partir de 2009. Além disso, o óleo combustível polui mais do que o gás. Portanto, usar energia com a máxima racionalidade é o que está ao nosso alcance a custo baixo.
Essa aflição estaria afastada se os investimentos necessários nas hidrelétricas tivessem sido feitos no tempo certo. Todos sabem que a construção de usinas hidrelétricas é demorada. Por isso, quem é do ramo costuma pensar sempre na demanda que o país terá a médio e longo prazos.
Espero que esse quadro preocupante agilize as concessões de licenças ambientais e gere as garantias que os investidores necessitam para construir hidrelétricas. Se isso acontecer, será um bom subproduto da crise. Estaremos fazendo como os chineses, que procuram sempre transformar problemas em oportunidades.
(Por Antonio Ermirio de Moraes,
Folha de São Paulo, 11/11/2007)