A fábrica de celulose que gerou uma crise entre a Argentina e o Uruguai começou a funcionar nessa sexta-feira (09/11) no lado uruguaio da fronteira entre os dois países, em meio ao impasse no diálogo no âmbito da Cúpula Ibero-americana no Chile.
O próprio presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, assinou a ordem para o início das operações na fábrica. A instalação foi construída pela finlandesa Botnia na cidade de Fray Bentos, criando a polêmica mais séria entre os dois países neste século.
A pedido da Argentina e com o aval do Uruguai, a Espanha atua como "facilitadora" para uma solução do litígio, que chegou até ao Tribunal Internacional de Haia.
A fábrica de celulose começou a operar às 6h, hora local (7h em Brasília). Poucas horas antes, o ministro de Habitação e Meio Ambiente uruguaio, Mariano Arana, anunciou que o Governo considerava a decisão "razoável" e que a tinha comunicado à direção da Botnia.
"Este é um momento muito importante para a empresa", disse o presidente do grupo finlandês, Erkki Varis, em comunicado.
O executivo ressaltou que a fábrica é "um exemplo de desempenho ambiental", que operará "segundo os padrões exigidos pela legislação uruguaia e da União Européia".
Na Argentina não se pensa assim. O Governo e grupos ambientalistas se aliaram para denunciar o risco de contaminação da fábrica.
Há um ano, na Cúpula Ibero-americana de Montevidéu, o rei Juan Carlos da Espanha aceitou mediar uma saída negociada para a questão, para a qual nomeou o embaixador espanhol na ONU, Juan Antonio Yáñez-Barnuevo, como "facilitador".
Agora, em Santiago, o Governo espanhol tentou mediar entre argentinos e uruguaios de novo.
Embora os representantes da Espanha tenham dito na quinta-feira que continuarão com o diálogo, a decisão de ativar a fábrica de celulose deixou bem claro que a tensão continua.
Hoje, a imprensa uruguaia ressaltou o "fracasso" das negociações entre os chanceleres do Uruguai, Reinaldo Gargano, e da Argentina, Jorge Taiana, mediados pelo colega espanhol, Miguel Ángel Moratinos.
Em Santiago, o ministro do Exterior uruguaio tinha dito que o diálogo "não teve resultados", devido à persistência do bloqueio da ponte que liga os dois países por ativistas argentinos.
Antes de partir para Santiago, o presidente do Uruguai já tinha declarado que "não há negociação possível" com a Argentina sobre o tema "enquanto as pontes internacionais forem mantidas bloqueadas".
Em declarações à rádio uruguaia "El Espectador" de Santiago, Vázquez foi mais contundente: "O Uruguai não tem por que avisar ninguém nem pedir permissão a ninguém".
Sobre a mediação espanhola, Vázquez sugeriu que tinha pouco sentido continuar o diálogo, já que não levou a acordos.
No entanto, o presidente do Uruguai disse perante os outros chefes de Estado e de Governo ibero-americanos, que assumia "o desafio de continuar pelo caminho do diálogo", mas reiterando que "os bloqueios são absolutamente ilegais".
Entidades de moradores da província argentina de Entre Ríos mantêm a ponte que liga Fray Bentos a Gualeguaychú, no lado argentino, bloqueada há quase dois anos. Outras pontes na fronteira também são bloqueadas por manifestantes periodicamente.
Segundo os dados da Botnia, a fábrica exigiu um investimento de US$ 1,2 bilhão. Primeira instalação da empresa fora da Finlândia, ela terá uma produção anual de 1 milhão de toneladas de celulose, destinada principalmente aos mercados europeus e asiáticos.
Os finlandeses se comprometeram a reciclar não só seus dejetos, mas também os de Fray Bentos, além de gerar sua própria energia renovável.
Uma vez iniciada a produção (de 2.000 toneladas diárias na fase inicial), depois de sete dias poderá sair a primeira balsa carregada com pasta de celulose rumo ao porto fluvial de Nueva Palmira.
(EFE, 09/11/2007)