A descoberta de reservas gigantes de petróleo no campo de Tupi, na Bacia de Santos, anunciado na manhã de ontem (08/11), coloca o Brasil em um novo patamar na indústria do petróleo, disse o governo federal.
"É algo que poderá contribuir para que o Brasil passe de nação intermediária no setor de petróleo e entre em outro patamar. Se tudo isso de extensão for confirmado, o Brasil passará à condição de país exportador de petróleo", afirmou a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Os testes realizados pela Petrobras no campo indicam um volume recuperável de 5 bilhões a 8 bilhões de barris de óleo e gás natural. Trata-se da metade de todo o petróleo descoberto pelo país nos últimos 50 anos, segundo Dilma.
Entre as dez maiores reservas Já o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, apontou para a possibilidade do Brasil ter agora uma das dez maiores reservas de petróleo do mundo, ficando entre a Venezuela e a Nigéria.
Gabrielli afirmou, no entanto, que não há garantias. "Não há ainda uma estimativa definida de quanto possa haver em toda a extensão da camada Pré-Sal", disse, se referindo aos campos que estão abaixo de uma espessa camada de sal subterrânea, como é o caso do Tupi.
A camada de Pré-Sal tem cerca de 800 quilômetros de extensão, indo da costa de Santa Catarina até o Espírito Santo.
Poços A Petrobras já tem 15 poços perfurados nessa extensão e, destes 15, oito apresentaram boa quantidade de petróleo e gás.
O anúncio fez com que a ação da Petrobras na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) disparasse hoje. A ação preferencial da petrolífera valoriza 10,03%, sendo negociada a R$ 81,95.
Para analistas do setor, a descoberta colabora para que a empresa mantenha a produção em ritmo ascendente. "O expressivo volume recuperável de petróleo e gás contido na área de Tupi deverá ser extremamente importante na estratégia da Petrobras continuar elevando suas reservas de forma consistente, e deverá agregara valor considerável à empresa no longo prazo", afirma o analista Ricardo Tadeu Martins, da corretora Planner.
Áreas retiradas Devido à descoberta, o governo decidiu retirar 41 blocos da 9ª Rodada de Licitações da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), situados nas bacias de Campos, Santos e Espírito Santo. Essas áreas estão em regiões de influência da descoberta de Tupi.
Dilma classificou a medida como de interesse à soberania nacional. Segundo ela, a partir de agora, o governo vai parar e pensar em um modelo que preserve a exploração dessas riquezas ao interesse do futuro do País.
A área que está "sob proteção" do governo possui cerca de 800 quilômetros e até 200 quilômetros de largura. O óleo encontrado está em profundidade que varia entre 5 mil e 7 mil metros.
Dilma explicou que, quando o edital da 9ª Rodada foi lançado em agosto, não se tinha conhecimento da possibilidade da existência de uma nova província petrolífera no Brasil. O governo, segundo a ministra, só foi comunicado oficialmente pela Petrobras na última segunda-feira.
Sem interferência Ela garantiu que o governo não vai intervir nos blocos leiloadas na região do Pré-Sal nas rodadas anteriores. Ela disse que, até hoje, 25% das áreas dessa região foram concedidas, sendo que 70% delas têm participação da Petrobras.
A Petrobras é operadora do bloco e detém 65% do ativo. As sócias são a britânica BG Group, com 25%, e a portuguesa Petrogal - Galp Energia, com 10%.
Petrobras prevê produção-piloto de 100 mil barris em Tupi a partir de 2011
A Petrobras planeja iniciar uma produção-piloto de 100 mil barris por dia no campo de Tupi a partir de pelo 2011. Situado na na Bacia de Santos, a área só deverá começar a produzir em escala comercial daqui a pelo menos seis anos, estimou o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella.
Antes, no entanto, a Petrobras vai iniciar produção na área de "Pré-sal" (800 metros de extensão entre a costa de Santa Catarina e o Espírito Santo) em 2009, disse o presidente da companhia, José Sergio Gabrielli.
O óleo será produzido na Bacia de Campos, no estado do Espírito Santo, na área denominada de Parque das Baleias, onde a Petrobras já fez descobertas anteriores.
Custos triplicados Estrella ressaltou que os custos para a exploração em regiões tão profundas devem ser bastante elevados. "À medida em que se dobra a profundidade, o custo para se explorar petróleo triplica", afirmou.
Até hoje, a Petrobras produziu petróleo, no máximo, a 2.700 metros de profundidade. Estrella observou que os reservatórios encontrados em Tupi são semelhantes aos que já haviam sido encontrados, o que indica uma continuidade dessas áreas. O que, segundo ele, amplia as chances de haver reservas gigantes em toda a extensão do "Pré-sal".
O diretor disse ainda que a Petrobras vai avaliar como vai usar o gás associado nos campos da região "Pré-sal". Como os campos estão em áreas distantes até 250 quilômetros da costa, a companhia está mapeando tecnologias para aproveitar o gás da melhor forma, sem desperdiçá-lo.
Entre as possibilidades avaliadas, está a liquefação do gás na costa, a compressão do insumo, e até mesmo a instalação de unidades termelétricas flutuantes. Nesse caso, a energia elétrica produzida a partir do gás seria transmitida por cabos submarinos.
(Cirilo Junior,
Folha Online, 08/11/2007)