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2007-11-08
Há um quarto de século, engenheiros endireitaram trechos do Rio Kushiro, que serpenteava por cerca de 160 quilômetros sob o grande céu de Hokkaido, aqui no norte do Japão, fluindo por colinas verdejantes e cidades rurais, percorrendo a maior zona alagadiça do país e o centro desta cidade portuária antes de desaguar no Oceano Pacífico.

Em breve, o trabalho será retomado. Mas desta vez, os tratores deslocarão terra para devolver as curvas em um trecho do rio que foi endireitado, restaurando sua forma sinuosa original.

Por décadas, o Japão buscou o desenvolvimento econômico a todo custo, mas agora está enfatizando a importância de proteger o meio ambiente. Então, sob uma lei de 2003 que visa reverter décadas de destruição, o Rio Kushiro será o primeiro de talvez muitos rios endireitados que recuperarão suas curvas originais.
 
Ainda assim, em um país famoso por pavimentar de modo imprudente as áreas rurais com concreto para criar empregos e escorar o meio século de governo do Partido Liberal Democrático, alguns ambientalistas e moradores locais estão céticos diante dos novos projetos. Já que não restam mais rios para endireitar, eles dizem, as autoridades atualmente estão simplesmente optando por começar a devolver-lhes as curvas. Será que é possível confiar em políticos e burocratas para repararem a natureza?

"Ora", disse Kazukaki Saito, 47 anos, um agricultor cujas terras estão encostadas no trecho que será curvado, disse que o projeto "é egotismo humano e visa apenas gastar dinheiro".

Toshihiko Yoshimura, um planejador oficial de rios do Ministério da Terra, Infra-Estrutura e Transportes daqui, disse que o projeto foi endossado por um comitê de autoridades, especialistas e cidadãos, como exigido pela lei de 2003, para evitar projetos desnecessários.

"Naturalmente, nós recebemos opiniões de que isto está sendo feito para criar empregos", disse Yoshimura. "Se nos tivessem dito que não era necessário, nós não o faríamos à força."

A restauração de rios e zonas alagadiças se tornou um grande negócio nos Estados Unidos e na Europa. No Japão, onde os rios possuem uma das maiores proporções de represas do mundo e virtualmente todos foram canalizados de uma forma ou outra, há uma grande necessidade de restauração.

Mas ambientalistas, advogados e alguns políticos alertaram que o esforço de restauração pode se tornar um pretexto para financiar o mesmo tipo de trabalho inútil que foi responsável pelo amplo endireitamento dos rios.

"Palavras como 'natureza' e 'restauração' têm impacto emocional", disse Kohei Sekikawa, 70 anos, um líder da Associação Senkon do Ambiente Natural, um grupo privado que se opõe ao trabalho no Rio Shibetsu, ao norte daqui. "Na verdade, dependendo do local, o trabalho de restauração pode ser bom em alguns casos, como também pode levar a maior destruição ambiental em outros casos."

Mais do que outras regiões rurais no Japão, a ilha de Hokkaido -esparsamente habitada e em grande parte agrícola- há muito depende de obras públicas que freqüentemente entram em choque com sua beleza natural.

Ao norte daqui, em Shiretoko, uma pequena península montanhosa que foi nomeada Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 2005, há 123 represas em 44 rios. Na cidade de Utoro, na península, quase tudo no Rio Pereke, onde salmão nada corrente acima para procriar, parece ter sido feito artificialmente, incluindo o fundo do rio, paredes e rampas de acesso de concreto para os peixes.

Aqui em Kushiro, o rio foi canalizado quando a prioridade era desenvolver economicamente a área. Rio acima, trechos foram endireitados para impedir enchentes em terras produtivas potenciais. Poucas pessoas deram atenção para a zona alagadiça do Kushiro -atualmente 200 hectares que abrigam 2 mil espécies de vida selvagem, incluindo a águia marinha de Steller, o grou japonês e o salmão japonês, o maior peixe de água doce do país- nos arredores desta cidade. Na verdade, os planos eram de transformar a zona alagadiça em uma área industrial, apesar disto nunca ter acontecido.

O endireitamento do rio fez o Kushiro fluir mais rapidamente e carregar mais sedimentos corrente abaixo. A zona alagadiça, que encolheu 30% em seis décadas, começou a secar, como costuma acontecer quando rios são canalizados. Para tentar reverter isto, e para impedir que os sedimentos cheguem à zona alagadiça, um trecho de 1,6 quilômetro rio acima será devolvido ao seu curso sinuoso original 2,7 quilômetros ao custo de quase US$ 8 milhões.

Não se sabe ao certo que efeito o projeto terá sobre a recuperação da zona alagadiça, disse Yoshimura, o planejador oficial do rio. "Por ora nós estamos fazendo o que podemos."

Mas o Fundo Sarun Kushiro, um grupo ambiental privado que participou do comitê que endossou o projeto mas votou contra ele, disse que a mudança do curso do rio terá pouco efeito positivo e que a obra em si prejudicará o meio ambiente. Ele argumenta que conter o fluxo de sedimentos das terras agrícolas e das florestas rio acima é mais importante.

E em caso da mão esquerda não saber o que a direita está fazendo, o Ministério da Agricultura tinha um projeto mais acima no rio que estava despejando lama e areia rio abaixo, onde o ministério de Yoshimura fará a curva no rio, disse Takuo Sugisawa, 61 anos, o secretário-geral do fundo. Para recuperar as terras agrícolas que aos poucos se tornaram zonas alagadiças, o ministério estava drenando a terra existente e movimentando terra ali.

"Os sedimentos que estão sendo despejados lá rapidamente se acumularão onde haverá a curva no rio", disse Sugisawa, acrescentando que eles no final enterrarão a zona alagadiça do Kushiro. Para impedir isto, os operários terão que remover os sedimentos que se acumularão no trecho curvado, ele disse.

"Então, em nome da gestão do rio, eles conseguirão novamente criar obras públicas na forma de remoção de terra", ele disse, caminhando ao longo de uma via asfaltada e atravessando uma ponte construída para permitir que caminhões e tratores transportem a terra do projeto de restauração do traçado do rio. "As obras públicas apenas prosseguirão sem fim."

(Por Norimitsu Onishi, The New York Times, 07/11/2007)


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