Sob o argumento de que teme por sua segurança, o engenheiro químico Luiz Ruppenthal quebrou virtualmente o silêncio e respondeu, ontem, a perguntas de ZH enviadas por e-mail a seu advogado, Nereu Lima.
O ex-diretor da Central de Resí-duos Utresa, de Estância Velha, no Vale do Sinos, é considerado pelo Ministério Público o principal causador da mortandade de mais de 86 toneladas de peixes, em outubro do ano passado, no Rio dos Sinos.
Desde quando teve sua prisão preventiva decretada, há um ano (e já relaxada pela Justiça), o engenheiro químico desapareceu. Na segunda-feira, Ruppenthal retornou ao Estado.
"Utresa não tinha irregularidade"
Entrevista: Luiz Ruppenthal, ex-diretor e responsável técnico da Central de Resíduos Utresa
Zero Hora - O senhor ou a Utresa foram responsáveis pelo desastre ambiental no Sinos?
Luiz Ruppenthal - Diversos fatores contribuíram para a mortandade, principalmente a baixíssima vazão do rio na época e a coincidência com a piracema. Por outro lado, é fato notório que cerca de 90% da carga poluidora do Rio dos Sinos tem origem nos efluentes cloacais não tratados que na bacia hidrográfica deste rio correspondem aos dejetos de mais de 1,5 milhão de pessoas. A missão da Utresa sempre foi evitar a poluição.
Zero Hora - A Utresa tinha irregularidades?
Ruppenthal - A Utresa não tinha irregularidades. Havia aspectos técnicos em vias de solução, exatamente para prevenir problemas deste tipo. O que houve foi, em função da pressão sofrida pelos órgãos ambientais, a busca de um culpado. A Utresa, por ser uma entidade do terceiro setor, ou seja, não é uma instituição pública nem é uma empresa privada, foi ideal para esta "resposta à sociedade", pois não era uma indústria nem era uma prefeitura.
Zero Hora - Por que o senhor fugiu?
Ruppenthal - Já havia sofrido dois atentados, o primeiro em que entrei em luta corporal, e o segundo onde meu veículo foi atingido.
Zero Hora - Quem tem interesse em lhe matar? Por quê?
Ruppenthal - A chamada máfia do lixo é muito poderosa, mata prefeitos, derruba ministros. Portanto existem forças que não estavam gostando das novas tecnologias que estávamos implantando na Utresa.
(Por Roberta Pschichholz, Zero Hora, 08/11/2007)