A Agência Internacional de Energia apresentou na quarta-feira (07/11) propostas duras e urgentes para evitar as "alarmantes" implicações climáticas do aumento da demanda energética de China e Índia. O relatório sugere que restringir a mudança climática a determinados limites, como quer a União Européia, pode ser algo inatingível, ao menos sob um custo acessível.
O influente documento intitulado Panorama da Energia Mundial foi publicado pela AIE menos de um mês antes da reunião de quase 200 países em Bali (Indonésia) para começar a discutir um tratado que suceda ao Protocolo de Kyoto a partir de 2012. "Até agora falou-se mais do que se fez na maioria dos países", disse a AIE. "As consequências do crescimento desordenado na demanda global por energia para a China, a Índia, a OCDE (países industrializados) e o resto do mundo são, entretanto, alarmantes."
A resposta a tal situação inclui a busca por maior eficiência energética e o uso de energias renováveis, com menor emissão de carbono do que os combustíveis fósseis. A AIE, que dá consultoria a 26 países industrializados, disse que as emissões globais de carbono devem crescer 57 por cento até 2030, se mantida a atual tendência, e que isso é consistente com um aumento de 5 graus Celsius a 6 graus Celsius em longo prazo na temperatura global, conforme as recentes estimativas da ONU.
Mesmo que os governos adotassem todas as políticas ambientais em discussão, as emissões de carbono ainda assim cresceriam mais de 25 por cento até 2030, o que representaria um aquecimento médio de 3C. Nesse modelo, as energias renováveis atenderiam a 17 por cento da demanda, ainda bem aquém do carvão. Reduzir as emissões de carbono abaixo dos níveis atuais e manter a mudança climática dentro dos padrões de segurança definidos pela UE exigiria uma ação política "sem precedentes".
Algumas usinas elétricas movidas a combustíveis fósseis seriam prematuramente aposentadas, a um custo de 1 trilhão de dólares, e o preço da eletricidade ficaria muito mais alto, segundo o relatório. Mas o forte crescimento econômico que ajuda a reduzir a pobreza na Ásia, especialmente na China e na Índia, é o principal responsável pela expectativa de aumento nas emissões de carbono.
Só a China foi responsável por 58 por cento do aumento das emissões mundiais de carbono entre 2000 e 2006. Até 2030, sua contribuição para as emissões globais devem crescer de cerca de 20 por cento para mais de 25 por cento. Em termos per capita, porém, as emissões chinesas continuariam inferiores às dos EUA.
A AIE defendeu uma "reação global" para descobrir soluções energéticas que tornem o crescimento da Ásia mais sustentável. O relatório confirma o teor de uma reportagem deste ano da Reuters, segundo a qual a China está no caminho de superar os EUA como maior emissor mundial de carbono em 2007. O relatório prevê que a Índia vá superar a Rússia e se tornar o terceiro maior emissor até 2015.
(Estadão Online,
Ambeinte Brasil, 08/11/200)