Se pensar muito o cérebro funde. Como substituir 8,5 bilhões de toneladas de petróleo, que movem a civilização ocidental e oriental atualmente. Mesmo sabendo que o petróleo acabará em 40 anos. Como alterar a máquina criada em torno dos combustíveis fósseis – indústrias, redes de abastecimento, postos de vendas, sem contar a rede elétrica movida a carvão em vários países do mundo, principalmente, China e Índia.
Se existe um problema mundial, que não pode ser jogado para frente, é este. Porque não é somente uma questão de mercado, de infra-estrutura, mesmo cultural, levando em conta o uso pessoal de veículos, um costume que hoje em dia define qualquer sociedade. Conhece o carro dele, e direi quem é, poderia ser uma definição. Ou, a pobreza é definida pelo número de cilindradas. Nunca esquecendo, apenas 12% da população mundial possuem carro – mais de 700 milhões. Previsão para 2020: 15% da população, será de 7,5 bilhões e mais de um bilhão de carros.
O problema é o planeta. De repente descobrimos que o local habitado por nós enfrenta situações nunca antes registradas, que acarretarão em conseqüências drásticas em médio prazo. Quando falamos em aquecimento global, aumento de temperatura, aumento de gases estufas (CO2, CH4, N2O, CFC, gás carbônico, metano, óxido nitroso e com-postos de cloro, flúor e carbono, nesta ordem), aumento na temperatura dos oceanos, significa aumento do nível da água, aumento da acidez, porque 70% do planeta é ocupado pelos oceanos, eles absorvem 2/3 de gás carbônico.
Sem contar o balanço energético, a energia solar rebatida e que volta à superfície em forma de calor (o efeito estufa), e que também se concentra no oceano. Um detalhe: as estações metereológicas estão na terra firme.
Então não dá para fugir: seremos movidos a que tipo de energia nos próximos 20, 30 anos? Na maior parte do mundo, ainda pelo petróleo, porque simplesmente não há uma solução global para a substituição total dos combustíveis fósseis nos próximos 30 anos. Estamos comentando previsões de cientistas e técnicos, que não envolvem mudanças climáticas que podem ocorrer antes desse prazo. Simplesmente não tem como plantar 427 milhões de hectares de cana para substituir a gasolina e o óleo diesel consumidos no mundo e com previsão de crescer, até dobrar o crescimento nesse prazo. Só para se ter uma idéia o Brasil planta 21 milhões de hectares de soja, 12 milhões de milho e 6 milhões de cana-de-açúcar.
Alternativas estão em andamento. Protótipos funcionam em várias partes do mundo, especialmente, baseados no uso do hidrogênio, como célula de combustível, inclusive para produção de energia elétrica. A GM, nos Estados Unidos, investe US$ 100 milhões na construção de um protótipo de um receptor e conversor de energia a base de hidrogênio. Na realidade as petrolíferas como Shell, British Petroleum e outras estão maquinando novos projetos energéticos, com possibilidades renováveis, que prolongam o controle sobre este setor, indefinidamente. Não pensem que pela perda ou redução no uso do petróleo, que as mesmas empresas, engordadas nas últimas décadas com os lucros do carbono fossilizado que extraem (isso mesmo, extração, não produção) do subsolo do Planeta desde o século XIX.
Exatamente. A mudança que acontecerá independente de se saber qual a nova matriz energética se refere ao controle. Ao invés de usinas grandes e centralizadas, postos que convertem combustível e energia elétrica e colocam na rede quando não for necessária. Residências interligadas, quando não usam energia, jogam na rede. Um carro movido a célula de hidrogênio, também produz eletricidade. Grande parte dos veículos fica ocioso durante o dia. O sujeito vai trabalhar, deixa o carro parado, até voltar para casa. São mudanças de conceitos.
Assim como a construção de novas residências, gastam menos, conservam mais a energia solar, acumulam água da chuva, selecionam lixo, produzem biogás. São Paulo, a partir do próximo ano, produzirá 7% de energia elétrica, a partir do metano acumulado em dois aterros sanitários (lixões).
Também 7% da energia elétrica consumida no Brasil vai para os chuveiros. Um país tropical, privilegiado na absorção da luz solar visível – a melhor delas – não usa no seu cotidiano. São muito caros os painéis, diriam. É, mas ninguém pressiona para transformar isso em alternativa. Assim como lâmpadas fotovoltaicas. Na Califórnia uma empresa está programando produzir 200 milhões dessas lâmpadas a um custo de centavos de dólar. Lógico, na Califórnia está sendo construído o maior coletor de energia solar do mundo. O planeta recebe todo dia 120 trilhões de quilowatts de energia solar.
A necessidade da população humana é de 7 bilhões de quilowatts. Na fotossíntese, por exemplo, é aproveitada apenas 0,02%. A maior parte da energia volta ao espaço e se dispersa. Parece tão óbvio qual deveria ser a fonte energética que movimenta a civilização. Mudança fácil não haverá. Alternativas são muitas. Precisam ser detalhadas. Tentarei fazer isso nos próximos textos. Hidrogênio, nanotecnologia na captação de energia solar. Captação da energia dos ventos na atmosfera. Da energia das marés. Biocombustível já têm informações em excesso, embora a questão seja simples: espaço.
Para substituir 10% do consumo mundial de combustíveis fósseis o Brasil teria que plantar muita cana, mas muita cana mesmo. Com um atenuante: se implantarem a tecnologia da produção de etanol a partir da celulose – prevista pelos americanos para substituir 30% do consumo de etanol no país. Quer dizer, produzir álcool combustível de restos de culturas, palha, capim, cascas de madeira, a folha e o bagaço da cana. Portanto, aguardem um pouco mais, antes de enlouquecer.
(Por Najar Tubino*,
Eco Agência, 07/11/2007)
*Najar Tubino é jornalista, autor da palestra "Uma visão Holística e atual sobre a integração do planeta", que trata das mudanças climáticas, aquecimento global, extinção de espécies, o funcionamento dos sistemas que compõem e movimentam a vida na Terra, com data-show, ilustrada com imagens de satélite da Nasa. Pode ser agendada pelo telefone: (51) 96720363, e-mail:
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