Criticando a política energética da América Latina, o professor Jen-Shin Chang, da Universidade canadense McMaster, diz que o desafio na área é encontrar um sistema energético balanceado. “Nenhuma energia é o ‘super-homem´. Definitivamente precisamos de energias renováveis e dos combustíveis fósseis, incluindo o biocombustível e a energia nuclear. Nós chamamos isso de ´o novo sistema de pesquisa´: encontrar a melhor maneira de cortar CO2 através da combinação de todos estes tipos de energia”, afirma Chang.
Especialista em energias e tecnologias de controle de poluição, o professor aposentado se dedica a viajar pelo mundo colaborando com pesquisas em universidades nas áreas energéticas e de tratamento de poluição sólida, líquida e eliminação de gases. Nos últimos dias ele esteve na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), agora está na Federal do Rio de Janeiro(UFRJ) e segue para outras regiões do país antes de voltar ao Canadá.
Para o professor, a energia nuclear é a melhor opção para reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2), porém ressalta que o problema ainda é o lixo gerado. “Devemos avançar nesta área e é isso que todo mundo está fazendo – pesquisando o tratamento do lixo nuclear”, diz.
A conclusão de que a fonte nuclear possui o menor índice de emissão de CO2 foi realizada após o cálculo de emissões totais produzidas por cada fonte de energia no seu ciclo de vida (que inclui a fabricação e descarte após a desativação). Fazendo o cálculo com cada fonte, o resultado pode ser surpreendente. Um exemplo é a energia eólica, com muito potencial para o território brasileiro e vista como uma excelente opção de fonte limpa. Com base nos cálculos, observa-se que ela gera um grande volume de emissões, uma vez que a vida útil de cada hélice é curta (em torno de 20 anos) e possui difícil descarte.
“Claro que é muito melhor que o carvão, mas comparado com a nuclear e a solar, a energia eólica não é tão boa. A hidroelétrica está em algum lugar entre a solar e a eólica”, explica Chang, segundo o qual é muito importante pensar em todo o ciclo de vida da fonte escolhida para ter o real cálculo de emissões de gases produzidos por cada uma.
Sobre as células de hidrogênio, o professor diz que é uma boa tecnologia para uso em casas e edifícios. “Até onde eu sei, a maioria das empresas automobilísticas desistiram da célula de hidrogênio. A indústria automobilística está se voltando agora para os motores de combustão do hidrogênio”, afirma.
Chang explica que a desistência da tecnologia para veículos tem dois motivos. O primeiro é que para a produção da célula é necessária prata, um mineral não tão abundante no mundo. A segunda razão é que a célula combustível gera o que ele denomina “poluição de verão”, pois libera água quente e torna o ar próximo a superfície terrestre ainda mais quente.
“Se todo mundo dirigisse carros a hidrogênio, o ar ficaria mais quente. Já para as residências é muito bom, pois podemos usar esta água aquecida para uso doméstico. Mais uma vez, temos que decidir qual a melhor aplicação para cada tecnologia”, alerta Chang. A utilização na construção civil já é pesquisada por diversas empresas como a GM e a Toshiba.
O professor diz que o Japão é o líder hoje em conservação energética e desenvolvimento sustentável. “Eles possuem a melhor tecnologia e já estão tentando ajudar outros países”, destaca. Em seguida vem a França e a Alemanha, que possuem boas tecnologias na área energética e de eficiência, enquanto que na América do sul, “não está sendo feito um bom trabalho”, na avaliação do especialista. “O Brasil está muito ruim e precisa melhorar a eficiência da combustão e da geração elétrica”, pondera.
Chang se dedica hoje a levar seu conhecimento para o meio acadêmico e ajudar na inovação tecnológica. “O que nós, professores, fazemos é criar a base para o futuro. O futuro são os estudantes”, observa. Por isso, a agenda de compromissos de Chang para 2008 já está lotada, incluindo viagens para universidades e centros de pesquisa de diversas partes do mundo. Para o professor, o intercâmbio de conhecimento entre instituições de diferentes países é necessário para se avançar tecnologicamente. “Precisamos de diferentes maneiras de pensar. Isto é importante não só para a universidade, mas para a pesquisa e para o futuro”, conclui.
(Por Paula Scheidt,
CarbonoBrasil, 06/11/2007)