O Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) e a AES Eletropaulo estão realizando uma pesquisa conjunta para conhecer o destino dos resíduos vegetais gerados pelo serviço de poda de árvores que é feito para manutenção da rede distribuidora de energia. O estudo, que vem sendo realizado no Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio) do IEE, está em sua fase final, e avaliou o trabalho da Eletropaulo, das empresas terceirizadas e dos 25 municípios pesquisados e a possível utilização dessa matéria orgânica como adubo.
Os lixões são lugares comuns de descarte dos resíduos vegetais
As podas, geralmente feita pelas prefeituras, torna-se responsabilidade da Eletropaulo quando a vegetação ameaça danificar a rede elétrica. A empresa é distribuidora de energia elétrica em municípios da Grande São Paulo, e suas equipes trabalham tanto com podas preventivas quanto emergenciais. Como o serviço não é padronizado, a Eletropaulo quis saber para onde iam esses resíduos. A pesquisa do Cenbio mostrará, em números gerais, o quanto deste material vai para aterros, lixões, ou recebe algum tratamento especial.
O projeto denominado Estudo do Potencial de Utilização da Biomassa Resultante da Poda e Remoção de Árvores na Área de Concessão da AES Eletropaulo buscou também dar uma destinação vantajosa a esses resíduos, transformando-os, por meio da compostagem, em matéria orgânica para adubagem. “Trata-se de um processo bem mais simples que a compostagem de resíduos como o lixo doméstico, pois nesse caso tratam-se apenas de restos vegetais”, explica Cristiane Cortez, pesquisadora do Cenbio ligada ao projeto. “Em breve saberemos qual a viabilidade destes compostos que estamos produzindo, e se será atrativo para as prefeituras produzi-los”.
Atualmente, estão montados quatro tipos diferentes de leiras (pilhas de matéria vegetal triturada), num terreno do Projeto Pomar (projeto de revitalização das margens do rio Pinheiros). Em um dos tipos a matéria vegetal está pura, em decomposição natural. Há também pilhas misturadas com esterco de cavalo, uréia, e lodo de esgoto. “A gente sabe que o nitrogênio acelera este processo, por isso temos uma leira sem nada além da matéria vegetal, e outras com materiais diferentes para ver qual tem resultados melhores” afirma Cristiane. Ao todo, existem três leiras de cada tipo sendo transformadas. No caso do lodo de esgoto, também será verificada a presença de metais e agentes patogênicos no produto da compostagem.
Nos próximos meses, quando as leiras forem examinadas e os custos de produção calculados, os pesquisadores poderão dizer se é viável para as prefeituras manterem projetos desse tipo. Atualmente, alguns municípios têm os resíduos de poda levados por empresas que produzem combustível para caldeiras. Cristiane considera a possibilidade de as prefeituras economizarem com a compostagem, o que daria um destino mais “nobre” aos resíduos. “A produção de energia também é muito importante, mas seria interessante ver esse retorno ao meio ambiente na forma de matéria orgânica, na terra”.
Local para a compostagem
Cristiane conta que, a princípio, a compostagem seria feita no terreno do IEE, dentro do campus da USP na Capital, mas que para isso seria preciso uma licença especial, já que uma lei da década de 1940 proíbe a realização de compostagem na Grande São Paulo. “Além do mais, nós não sabíamos se seriam atraídos insetos ou se haveria odores. Mesmo visitando outros projetos, preferimos não arriscar”.
A solução veio com a utilização de uma área do Projeto Pomar, do qual a Eletropaulo é uma das maiores participantes. O Projeto Pomar já possuía licença para realizar a compostagem dos resíduos vegetais da sua área de atuação, de modo que a nova usina do Cenbio pôde ir para o mesmo local.
(Por Leonardo Zanon, Agência USP, 06/11/2007)