Sete crianças com menos de cinco anos de idade morrem por dia no Brasil em decorrência de diarréia. Em um ano, são mais de 2,5 mil jovens vítimas da doença, que prolifera em áreas sem saneamento básico, principalmente na periferia das grandes cidades.
O problema é atribuído à carência na coleta e tratamento de esgoto, a água de má qualidade e a falta de higiene. As internações em hospitais públicos (65%) de crianças menores de 10 anos são provocadas pela deficiência ou inexistência de esgoto e água limpa. Os dados foram apresentados ontem no 2º Fórum Brasileiro da Água, realizado no espaço de eventos Villa Noah, em São Paulo. A edição deste ano debateu a relação entre saneamento básico e saúde pública.
O encontro reuniu representantes de Ongs, da iniciativa privada e de técnicos do governo federal, além de enviados de estados e municípios. Nos debates ficou claro que todos estão pessimistas quanto aos investimentos em saneamento no País. Em 1992, 36% da população tinha acesso a serviços como água e esgoto. Em 2006, esse índice passou para 47%.
O presidente do Instituto Trata Brasil, Luis Felli, disse que o País ainda não tem motivos para comemorar. Segundo ele, o governo federal investe apenas um terço do necessário para a expansão da rede de esgoto. "Nos últimos quatro anos, o gasto com a área foi de apenas 0,22% do PIB quando deveria ser de 0,63%", destaca.
O técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), Sérgio Fracisco Piola, afirmou que os problemas de saneamento atingem também a educação. Segundo ele, 34% das ausências de crianças de zero a seis anos em creches e escolas deve-se a doenças ligadas à falta de tratamento de esgoto. "Os gastos anuais do SUS com essas enfermidades chegam a R$ 300 milhões por ano". Na opinião de Piola, falta investir em habitação, emprego e saúde pública, através de trabalhos de prevenção.
O coordenador do Programa Água para a Vida da WWF - Brasil, Samuel Barreto, afirmou que o governo brasileiro não cumprirá as oito Metas do Milênio propostas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para 2015. Segundo ele, como as obras de saneamento não têm visibilidade que interessa aos governos nas três esferas são feitos poucos investimentos no setor. "São 40 milhões de pessoas no País que consomem água de péssima qualidade e nada é feito para mudar este quadro", destaca.
Um documento com o resultado do Fórum e as principais conclusões sobre saneamento público será encaminhado para quatro ministérios (Meio Ambiente, Saúde, Cidades e Planejamento) e também para a Casa Civil.
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Jornal do Comércio RS, 07/11/2007)