A área média por contrato do Programa Produtor Florestal da Aracruz Celulose é de 24,4 hectares, segundo informa a empresa. A informação é prova de que os produtores que aderiram ao programa têm ganhos 25 vezes menores do que se fizessem plantios agrícolas. No país, a área contratada pela empresa como parte do programa é de 88,3 mil hectares e a área plantada de 81,7 mil hectares.
Os números da empresa são relativos a 2006. A empresa aponta na época a existência de 3.615 contratos, em 156 municípios, dos quais 69 no Espírito Santo, 14 na Bahia, 39 em Minas Gerais, oito no Rio de Janeiro e 26 no Rio Grande do Sul.
A prova de que 3.615 produtores que fizeram contrato com a Aracruz Celulose estão perdendo dinheiro é dada no confronto da área média plantada, de 24,4 hectares, com os resultados de pesquisa realizada pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) em Santa Maria de Jetibá, região serrana do Estado.
A pesquisa provou que o plantio de eucalipto dá prejuízo ao pequeno produtor rural. São pequenos produtores os que têm propriedades de até 25 hectares. Foram estudados os custos e preços de 24 produtos agrícolas, comparados com o eucalipto. A pesquisa foi conduzida pelo engenheiro agrônomo Edegar Antônio Formentini, na época chefe do escritório local do Incaper, e divulgada em 2002.
Os dados divulgados na ocasião apontam que um hectare empregado para produção de hortifrutigranjeiros rendia R$ 12 mil por ano. Já um hectare plantado com eucalipto rendia R$ 395,00 anualmente.
O Programa Produtor Florestal completará 16 anos de atividades. Informa a Aracruz Celulose que este programa responde pela geração de mais de 5 mil empregos. Dá uma média de l7,2 empregos por hectare. Na agricultura, cada hectare gera um emprego, em média.
Segundo interpretação de Valmir Noventa, um dos coordenadores do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) no Espírito Santo, nos 81,7 mil hectares plantados com eucalipto não devem trabalhar 5 mil pessoas, como diz a empresa. Ele afirma que "na eucaliptocultura a média é de um emprego por 30 hectares. A empresa mente mais uma vez".
Mas não é só na geração de emprego e renda que o Programa Produtor Florestal da Aracruz Celulose prejudica o agricultor. A empresa fornece venenos agrícolas aos seus participantes. Os agrotóxicos vão contaminar o solo, o ar e a água das propriedades, acabando com a biodiversidade. Sem contar o mais grave: os formicidas e herbicidas afetam a saúde humana e provocam mortes.
Valmir Noventa aponta ainda o drama social que a eucaliptocultura provoca: sem trabalho no campo, os agricultores são obrigados a mudar para as cidades, onde ocupam favelas. Suas culturas, como a indígena e quilombola, são destruídas.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 07/11/2007)