Uma pesquisa do médico veterinário Luiz Augusto Nero em parceria com a Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná, descobriu resíduos químicos em 11,4% de 210 amostras de leite de cru recolhidas no Paraná, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. A pesquisa foi divulgada em junho deste ano e apresenta o resultado de coletas realizadas entre 2003 e 2004.
De acordo com Nero, as substâncias encontradas podem ser tanto resíduos de agrotóxicos como de medicamentos veterinários. “Não é possível detectar a origem das substâncias. Estudamos apenas o princípio ativo [carbamatos e orgânicos fosforados]”, disse.
Em Londrina (PR), 23,6% das amostras apresentaram resíduos. Em Viçosa (MG), a proporção foi de 8,5%. Em Botucatu (SP), foram encontrados resíduos em 8% e, em Pelotas (RS), o percentual atingiu 6%. As amostras foram retiradas de diversas propriedades com o objetivo de representar a produção de leite nas regiões.
Segundo o professor, as substâncias químicas encontradas no leite podem vir de medicamentos para tratar os animais contra parasitas e da ingestão de alimentos ou água contaminados. “O agrotóxico pode ser aplicado nas plantações em vários locais da propriedade que vão servir de alimento para o animal”, disse Nero.
De acordo com Nero, esses resíduos não são eliminados durante o processo de beneficiamento do leite, como o UHT (em que o leite é aquecido a altas temperaturas) e a pasteurização (em que o produto é aquecido e resfriado). “O processamento térmico não elimina substância química. O objetivo desses tratamentos é eliminar microrganismos que podem causar enfermidades aos consumidores”, explicou.
Embora afirme não ser possível precisar se os antibióticos e agrotóxicos presentes no leite estão em quantidades suficientes para fazer mal ao homem, Nero informa que altos níveis dos produtos podem causar alergias, defeitos de formação e contribuir para bloquear o efeito de outros medicamentos no corpo.
O veterinário disse ainda que cerca de 10% das amostras apresentaram resíduos de medicamentos usados no tratamento de inflamações nas glândulas mamárias das vacas (mastites). Ele explica que, entre as principais causas desse problema, está a falta de higiene durante a ordenha dos animais.
(Por Isabela Vieira, Agência Brasil, 06/11/2007)