Robert Verpoorte, do Instituto de Biologia de Leiden, na Holanda, estima que cerca de 70 mil plantas medicinais foram estudadas ou são objetos de pesquisas em laboratórios de todo o mundo para a obtenção de novos fármacos.
Devido à complexidade das micro e macromoléculas encontradas nessas plantas, Verpoorte tem trabalhado, nos últimos anos, no mapeamento de compostos de espécies como a Catharanthus roseus – que produz substâncias antitumorais como a vimblastina e a vincristina –, por meio de uma ferramenta da genômica funcional altamente promissora para o isolamento de princípios ativos.
Trata-se da metabolômica, técnica que consiste na identificação e na quantificação dos metabólitos (compósitos naturais) por meio de métodos cromatográficos, da espectrometria de massa e da ressonância magnética nuclear. Uma vantagem da metabolômica é a extração de centenas ou milhares de substância ativas da matriz de uma planta, muitas vezes em menos de 15 minutos.
“Mapeamentos metabolômicos, principalmente com o auxílio de espectroscopia de ressonância magnética nuclear, têm demonstrado a impossibilidade de se precisar quantos compósitos estão presentes em uma mesma espécie”, disse Verpoorte na semana passada, durante o 58º Congresso Nacional de Botânica, em São Paulo.
“Isso abre uma enorme possibilidade para a indústria farmacêutica mundial, uma vez que deve haver, no mínimo, a mesma quantidade de compósitos nessas espécies quanto o número de genes nos seres vivos. Ou seja, estamos falando em, pelo menos, 30 mil substâncias ativas em cada espécie”, afirmou Verpoorte durante a palestra magistral “Medicinal plants and metabolomics: a perfect holistic match”.
Para ele, a identificação de compostos ativos em plantas por meio da metabolômica seria a solução para a realização do “sonho pela busca de novos medicamentos e pela cura de doenças”. “A associação das ciências ‘ômicas’, como a genômica, a transcriptômica e a proteômica, permite que a indústria identifique diferentes substâncias bioativas que podem dar origem a uma única droga para o tratamento de doenças multifatoriais”, apontou.
Verpoorte, que é também editor do Journal of Ethnopharmacology, mencionou o ácido acetilsalicícico, medicamento cujo composto ativo é extraído da folha do chorão (Salix babylonica) e que, segundo ele, com mais de cem anos de existência “é a droga mais bem-sucedida já produzida pela indústria farmacêutica”.
Só nos Estados Unidos, segundo o cientista, são consumidas cerca de cinco toneladas de aspirina por dia, justamente por ela servir para diferentes usos, desde analgésico e antitérmico até tratamentos antiinflamatórios ou para alívio de dores de cabeça.
“A metabolômica permitirá uma abordagem holística dos produtos bioativos. Ela fará uma espécie de varredura na medicina para a elaboração de drogas únicas cujas fórmulas serão ativas em diferentes alvos, revolucionando a ecologia química e o desenvolvimento de drogas a partir de plantas”, destacou.
(Por Thiago Romero, Agência Fapesp, 06/11/2007)