Um dos grandes motivos de orgulho do Brasil é a contínua busca pela independência tecnológica no setor energético A visita do presidente Lula à unidade experimental de produção de bioetanol do Cenpes (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras) no Rio de Janeiro, na sexta-feira, dia 26/10, chama a atenção para um dos grandes motivos de orgulho do Brasil: a contínua busca pela independência tecnológica no setor energético.
A Petrobras é responsável por parte importante dessa história. Seja no desenvolvimento de tecnologia pioneira de exploração e produção de petróleo em águas profundas, seja no processamento de petróleo pesado para obter combustíveis e produtos petroquímicos, seja no avanço na primeira geração de biocombustíveis, com rotas inovadoras para a produção de biodiesel e o processo HBio.
Agora, quando a busca de novas alternativas energéticas desponta como questão central no mundo, a Petrobras busca mais uma vez a dianteira do desenvolvimento tecnológico brasileiro, investindo fortemente na pesquisa de energias renováveis, especialmente biocombustíveis de segunda geração, produzidos a partir de resíduos agroindustriais.
Desenvolvida em parceria com a empresa brasileira Albrecht, a planta piloto de etanol de lignocelulose é a única no Brasil a utilizar a tecnologia enzimática. Essa planta conta com inovações pioneiras que geraram dois depósitos de patente -uma delas, a milésima da Petrobras- e que permitiram alcançar rendimento e produtividade expressivos.
O foco inicial da pesquisa do bioetanol é o bagaço de cana, largamente disponível no Brasil e que hoje é rejeitado ou subaproveitado. A tecnologia está sendo desenvolvida em parceria com universidades brasileiras. Com a Escola de Química da UFRJ, desenvolvemos a concepção e o processo de produção de bioetanol com ação de enzimas. Com a UnB e a Ufam, pesquisamos novos microrganismos para a produção de enzimas capazes de melhorar a produtividade e a economicidade do processo.
Atuamos em cooperação também com a Embrapa e o Inmetro, instituições de excelência em suas áreas de atuação, que detêm conhecimentos complementares importantes para o sucesso do processo. A partir dos parâmetros resultantes dos testes na unidade experimental, programaremos uma nova unidade, em escala semi-industrial. Esses testes serão importantes para superar os gargalos tecnológicos ainda existentes, como a obtenção de enzimas de custo e desempenho competitivos e a redução do tempo de fermentação.
Mas quem quer estar na vanguarda não pode isolar-se do cenário a sua volta. Expressivos esforços em pesquisa nessa área também têm sido feitos por instituições na Europa e na América do Norte. Há várias alternativas tecnológicas em desenvolvimento, sendo as mais relevantes as rotas termoquímicas e bioquímicas.
Nas termoquímicas, usam-se altas temperaturas e catalisadores para transformar o carbono e o hidrogênio presentes na biomassa em hidrocarbonetos, como gasolina e diesel. Acrescentando oxigênio, pode-se obter também alcoóis, como etanol ou butanol.
Nas rotas bioquímicas, utilizam-se enzimas para promover a quebra da celulose da biomassa em açúcares, que são fermentados para gerar álcool. Cada caminho apresenta prós e contras e, no atual estágio, é impossível prever qual dominará o mercado.
A Petrobras avalia constantemente alternativas tecnológicas e investe no desenvolvimento das que julga mais promissoras.
Se nas rotas bioquímicas investimos no bioetanol, nas termoquímicas apostamos na produção de diesel sintético a partir de biomassa ("biomass-to-liquids" -BTL), com previsão de uma planta piloto em 2009.
Buscamos novas parcerias com empresas e instituições nacionais e estrangeiras com potencial para aumentar a velocidade e reduzir o risco do desenvolvimento tecnológico nessa área. Parcerias que obedecem a critérios rigorosos, garantindo o domínio tecnológico para a Petrobras -e para o Brasil- e resguardando a propriedade intelectual de forma adequada.
Graças à combinação de fortes investimentos em tecnologia com a cooperação tecnológica, a Petrobras superou desafios, como produzir petróleo em águas profundas, adaptar seu parque de refino ao óleo pesado brasileiro, conquistar e manter a auto-suficiência em petróleo e consolidar-se entre as grandes petrolíferas mundiais.
Para isso, o domínio tecnológico foi fundamental. Empenhamo-nos em repetir essa trajetória com os biocombustíveis, potencializando a vocação natural brasileira para as energias renováveis.
(Carlos Tadeu da Costa Fraga,
Folha de São Paulo, 06/11/2007)