Nos anos 80 o Canadá foi um poderoso motor da consciência ambiental do mundo. Hoje está atrasado em quase tudo que diz respeito ao desenvolvimento sustentável. O autor principal do histórico Informe Bruntland de 1987, intitulado “Nosso Futuro Comum”, foi o canadense Jim McNeill. A primeira reunião de cientistas e líderes políticos internacionais sobre mudança climática aconteceu em Toronto, em 1988. o canadense Maurice Strong organizou a primeira Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente em 1972, em Estocolmo, foi o primeiro diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e secretário-geral da Cúpula da Terra, realizada em 1992 no Rio de Janeiro.
Desde então, o Canadá não fez quase nada no âmbito interno. Na lista dos 30 países de maiores rendas, ocupa o posto 28 em matéria de sustentabilidade ambiental, segundo um estudo canadense independente. E a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico o coloca no 27º lugar entre seus 30 membros no tocante ao desempenho ambiental. Nos últimos 15 anos, todos os indicadores ecológicos do país decaíram, disse David Runnalls, presidente do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável na cidade canadense de Winnipeg. Runnalls trabalha há 30 anos para entidades governamentais e não-governamentais de todo o mundo, como o Pnuma e a União Mundial para a Natureza (UICN).
“O desenvolvimento sustentável está vivo e ativo na Europa, mas não na América do Norte”, disse Runnalls a este jornalista em uma conferência que rastreou os esforços feitos pelo Canadá desde 1987 para criar riqueza preservando os recursos naturais e respeitando os direitos sociais. Os europeus fizeram do desenvolvimento sustentável parte de suas leis e regulamentações. O Canadá não. Pelo contrário, sucessivos governos reduziram orçamentos ambientais e os executivos das empresas perderam interesse na sustentabilidade, explicou. “Não se consegue 15 minutos de um alto funcionário ambiental para falar sobre desenvolvimento sustentável no Canadá”, afirmou Johanne Gelinas, ex-comissária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do governo canadense.
Se houve algum progresso, deve ser atribuído às pressões de organizações não-governamentais sobre governos e indústrias. Hoje, o setor corporativo avança e poderia forçar as autoridades a formularem políticas sustentáveis. “Se grandes instituições como o setor bancário do Canadá decidissem comprar papel dos fornecedores do Conselho de Manejo Florestal (que certifica as boas práticas) isso teria um enorme impacto”, afirmou Gelinas. “Noventa e nove por cento dos esforços governamentais são para manter tudo com está”, disse, por sua vez, Tim Sale, ex-ministro da Saúde na província de Manitoba.
“Os governos agem quando percebem que há uma emergência. E a mudança climática não é vista como tal”, disse Sale. O público tampouco compreende assuntos como o aquecimento global, acrescentou. “Antes de o Protocolo de Kyoto entrar em vigor (em 2005), sabíamos que não iríamos tentar cumprir nossas obrigações internacionais”, admitiu David Anderson, ministro de Meio Ambiente do Canadá entre 1999 e esse ano. O Protocolo obriga o Canadá a reduzir em 6% suas emissões de gases causadores do efeito estufa, em relação às de 1990, entre 2008 e 2012. Entretanto, o país, atualmente, lança na atmosfera 34,5% mais gases do que em 1990.
Havia muita pressão do setor energético, da indústria pesada, da província petrolífera de Alberta (no sudoeste) e do governo dos Estados Unidos, justificou Anderson. “A mídia não nos apoiou e os Estados Unidos quiseram que fracassássemos”, queixou-se Anderson. Diante da falta de liderança, a sociedade civil conduziu o impulso para soluções sustentáveis, disse Robert Gibson, especialista em Meio Ambiente e Recursos da Universidade de Waterloo. As ongs produzem idéias e planos de ação que os governos deveriam apoiar, afirmou.
Entretanto, ocorre o contrário. Quando a sociedade civil e as indústrias de mineração e de gás acertaram novas políticas ambientais e de justiça social, o governo federal negou-se a adotá-las, destacou Steward Elgie, professor de Leis na Universidade de Ottawa e diretor do Instituto do Meio Ambiente. O governo de Stephen Harper se opõe às regulamentações, disse Elgie. As autoridades “consideram, inclusive, retirar a contribuição canadense ao Pnuma”, afirmou ao Terramérica. Apesar do papel fundamental das ongs, estas têm pouquíssimos recursos. Os canadenses estão longe de serem generosos em suas doações e estimam que seus impostos – em queda na última década – já financiam programas sociais e ambientais.
O público, as associações profissionais e as ongs têm de pressionar os governos para que atuem e reformem nossa sociedade para que possa ser sustentável, disse ao Terramérica James Meadowcroft, especialista em Política da Universidade de Carleton. Na Grã-Bretanha, estrelas do mundo pop, figuras da televisão, ídolos do esporte, empresários e cientistas incentivam ações contra a mudança climática, acrescentou. “Precisamos fazer algo no Canadá para mostrarmos que estamos no caminho certo, obter alguma retroalimentação positiva e gerar impulso para enfrentar este problema, grande e complexo, da sustentabilidade”, concluiu Meadowcroft.
(Por Stephen Leahy*,
Terramérica, 05/11/2007)
* Este artigo é parte de uma série sobre desenvolvimento sustentável produzida em conjunto pela IPS (Inter Press Service) e IFEJ (sigla em inglês de Federação Internacional de Jornalistas Ambientais).