O oceanólogo Kleber Grübel da Silva, coordenador do Projeto Lagoa Verde, do Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema), está revoltado com o corte de 12 árvores nativas, localizadas no acostamento da RS-734, rodovia que liga o Cassino ao centro do Rio Grande, na área da curva do Senandes. O corte foi feito pela empresa que está fazendo a duplicação da rodovia, na última quarta-feira. “É uma irresponsabilidade e crime ambiental”, destacou o oceanólogo, acrescentando tratar-se da espécie salso nativo (Salix humboldtiana), árvore típica de banhados e áreas úmidas de nossa região, que poderia ser transplantada.
“No projeto da obra, não estava planejada a forma de manejá-la, então resolveram cortar. É um absurdo a forma como estão tratando a nossa flora nativa. Na audiência com os moradores, disseram (o Daer) que as questões ambientais estavam sob controle e agora fazem isso”, salientou. A preocupação do ambientalista é que esta medida seja adotada em relação a todas as árvores nativas do acostamento ou da beira da estrada nos 11 quilômetros abrangidos pela obra. No seu entender, o corte destas árvores é uma demonstração de descaso com o ecossistema da área do entorno da Lagoa Verde.
O fato já foi comunicado ao Pelotão Ambiental da Brigada Militar, à Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA) e ao Departamento Estadual de Florestas e Áreas Protegidas (Defap). “A inexistência de planejamento está causando irresponsabilidade do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) e das empresas responsáveis pela duplicação da RS-734”, salienta Silva.
SMMA não foi consultada
O secretário municipal do Meio Ambiente, Norton Gianuca, disse que a SMMA não foi consultada. "De uma hora para outra, sem falar com ninguém, um grupo de trabalhadores da empresa fez a retirada dos salsos nativos e outras espécies e arrancou toda a cobertura vegetal do trecho. O corte foi feito rápido, em dois ou três dias", relatou. Gianuca disse ter feito contato com as empresas de consultoria ambiental e de supervisão da obra, que disseram não terem sido informadas desta ação. Ele tentou falar com a Construtora Pelotense, que está realizando a duplicação, e não conseguiu.
Da forma como foi feito o corte, ele acredita ter sido irregular, pois não houve consulta aos órgãos competentes e "essas árvores poderiam ter sido salvas, com a realização de transplante". Lembrou que o Daer fez um acordo com a Promotoria Especializada para realização da duplicação da estrada, no qual ficou acertado o transplante das espécies nativas. Relatou ainda que a SMMA vem coordenando e orientando transplantes das árvores nativas e outras existentes no trecho inicial da obra, do Cassino até o Arroio Bolaxa, e não entende por que esse corte, entre o Arroio Bolaxa e o Senandes, foi feito à revelia.O diretor-geral do Daer, Gilberto Cunha, informou, no início da tarde de ontem, que não tinha conhecimento da derrubada destas árvores.
(Por Carmem Ziebell, Agora, 03/11/2007)