Para discutir a moratória da soja produzida em áreas desmatadas da Amazônia depois de outubro de 2006, 15 organismos ambientais se reuniram em Brasília nos dias 30 e 31 de outubro. Envolvendo Ministérios, ONGs ambientalistas, Procuradores de Justiça, bancos e pesquisadores, o evento procurou enfatizar a regularização fundiária e o licenciamento ambiental nas propriedades rurais da região.
A moratória visa a não-comercialização da soja plantada depois de outubro de 2006, proveniente de áreas desmatadas pelo período de dois anos, pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais e a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (ANEC), em conjunto com seus associados.
O documento confeccionado ao final do evento - Carta de Brasília sobre a moratória da Soja - recomenda ao governo e ao setor privado "realização urgente da regularização fundiária na região e o condicionar o financiamento às atividades agropecuárias ao licenciamento ambiental das propriedades rurais, entre outras medidas".
Com a licitação de posses de 500 hectares para 15 módulos rurais, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) pretende ampliar sua contribuição ao agronegócio. O objetivo dessa medida é aumentar as exportações do setor. Segundo o Instituto, "se o país está crescendo, precisamos aumentar a produção de alimentos e a reforma agrária deve atender essa demanda nacional".
DesigualdadeUm dos maiores problemas rurais é a desigualdade na distribuição da riqueza gerada pela agricultura. Segundo Mário Menezes, diretor-adjunto da ONG Amigos da Terra, "um pequeno grupo vinculado ao agronegócio e os credores brasileiros se beneficiam da riqueza gerada pela agropecuária na Amazônia, mas 45% da população regional vive abaixo da linha da pobreza."
De acordo com Menezes, "o desenvolvimento regional requer a regularização fundiária, inclusive das áreas da União, e o licenciamento ambiental para o uso dos recursos naturais (SLAPR-Sistema de Licenciamento Ambiental em Propriedade Rural)".
Diferenciar licenciamento e cadastro ambiental é um dos desafios da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Pará (SECTAM). Para o órgão paraense, isso tem importância fundamental: "no Estado, 50 milhões de hectares estão ocupados sem regularização."
SojaTambém é necessário "viabilizar a moratória da soja, para estendê-la às demais cadeias produtivas do agronegócio", explica Menezes. Essa também é a opinião da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove).
Já a Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja) pensa de maneira diversa. A entidade não apóia a moratória da soja por que o desmatamento legal estaria incluído nesses cálculos. Segundo os produtores, a moratória não produziu resultados no primeiro ano e não há indicativos de que ela vá funcionar em 2008.
Sobram críticas a outros setores indiretamente envolvidos no agronegócio. Para a Aprosoja, "bancos, traders e outros segmentos "só estão preocupados com a questão ambiental por causa do lucro".
(Por Charles Nisz,
Amazonia.org.br, 01/11/2007)