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contaminação com agrotóxicos indústria do cigarro
2007-11-05

O endividamento das famílias e a exposição constante a agrotóxicos são as maiores causas dos suicídios entre produtores de fumo

Segundo o advogado Guilherme Eidt, que pesquisa a cadeia produtiva do fumo, a dependência econômica dos produtores tem um peso muito grande nesse processo. Práticas como a produção integrada, por exemplo, obrigam os fumicultores a se endividarem todos os anos antes mesmo de começar o plantio.

“A perspectiva de uma cadeia produtiva integrada gerou, nesse contexto, um ciclo de dependência econômica, na medida em que as indústrias articulam a venda casada do pacote tecnológico de insumos necessários para começar a produção junto com o financiamento desses insumos. E no próprio contrato coloca em penhora o fumo produzido como garantia desse financiamento. Então  o agricultor se endivida anualmente para poder começar a plantar fumo”, diz.

Dos 200 mil produtores de fumo do país, 100 mil estão no Rio Grande do Sul. No Brasil, as empresas optaram por um sistema de produção integrado aliado às pequenas propriedades. O pesquisador também destaca, além da pressão econômica, os prejuízos dos agrotóxicos utilizados para a saúde.

“Os agrotóxicos utilizados na cultura do fumo são organofosforados e apresentam um índice de acumulação no organismo elevado. Sujeito às pessoas que têm uma maior sensibilidade a manifestar picos de intoxicação logo após a aplicação de uma grande quantidade de veneno, de agrotóxicos, por exemplo, de apresentar sintomas de depressão muito elevados, porque eles inibem um neurotransmissor que interfere no processo de humor da pessoa, de bem-estar, no funcionamento do organismo como um todo", explica.

Para resistir à dominação das empresas, Eidt defende a organização entre os produtores. Segundo ele, essa união é fundamental para que o fumicultor possa obter acesso a outras fontes de crédito e não depender mais do financiamento controlado pela indústria fumageira.

“Quando você encontra pessoas dentro daquela mesma situação, você percebe que você não está sozinho. Você percebe que você não está isolado naquele contexto, que tem outras pessoas que também enfrentam esse tipo de situação e que, organizados e se mobilizando, é possível encontrar ou fortalecer iniciativas de resistência”, avalia.

O pesquisador aponta, ainda, a diversificação das culturas como forma de o produtor conseguir mais independência.

Eidt concentrou suas pesquisas na região centro sul do Paraná, planalto norte e Vale do Itajaí, em Santa Catarina e no Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. De acordo com ele, a forma como as empresas atuam é muito semelhante em todos os locais, o que faz com que sejam parecidos os históricos de dívidas, doenças e suicídios. Ele afirma ainda que o Rio Grande do Sul é o estado que mais registra casos de suicídio porque é onde existe a maior produção.

Em Fevereiro deste ano, a agricultora Eva da Silva cometeu suicídio em sua casa, no município gaúcho de Vale do Sol, no Vale do Rio Pardo, depois de um arresto da sua produção de fumo. O arresto foi determinado pela Justiça, para pagamento de uma suposta dívida com a empresa Aliance One.

Uma pesquisa realizada pela Universidade de Santa Cruz (Unisc), em parceria com a Universidade de  Campinas (Unicamp) e com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), revela que entre 1999 e 2001, houve um aumento nos casos de suicídio na região gaúcha do Vale do Rio Pardo. Só em Santa Cruz do Sul, nesses três anos houve 46 casos de suicídio, enquanto que em Venâncio Aires, foram 34 casos.

Os imigrantes alemães trouxeram a cultura do fumo para a região do Vale do Rio Pardo, no século XIX, mas utilizavam para subsistência. No século XX o fumo foi industrializado, e as indústrias que se instalaram na região implementaram o sistema integrado.

(Por Patrícia Benvenuti, Agência Chasque, 02/11/2007)


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