Se a usina nuclear de Angra 3 estivesse pronta, a redução do fornecimento de gás natural para as distribuidoras do Rio de Janeiro e de São Paulo, realizada no último dia 30 pela Petrobras, não seria necessária. A avaliação é do presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento das Atividades Nucleares (Abdan), Ronaldo Fabrício.
Ele explicou que durante algum tempo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) considerou que as usinas térmicas só deveriam entrar em funcionamento em situações de emergência, em períodos secos e se faltasse água para as hidrelétricas. A partir de teste realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), constatou-se que somente 30% das termelétricas teriam condições de operar no caso de uma hidrologia desfavorável, “porque as outras não tinham gás”, citou Fabrício.
De acordo com análise do presidente da Abdan, o ONS quer guardar um pouco mais de reserva em água, fazendo com que as térmicas operem, sem pressionar os reservatórios. Por isso, foi feito um acordo com a Petrobras que garante o gás para as usinas térmicas, sob pena de uma multa pesada. “Então, agora, quando as térmicas despacharam, a Petrobras foi obrigada a cumprir o acordo e a cortar o gás das distribuidoras”.
“Se nós tivéssemos prosseguido Angra 3, logo após Angra 2, a usina estaria pronta agora e, seguramente, não haveria necessidade dessa situação porque Angra 3 representaria 1.350 megawatts firmes de energia. Isso equivale ao dobro de uma hidrelétrica. Mas, infelizmente, houve esse atraso e nós vamos ter que recuperar”, explicou Fabrício.
Estudo elaborado pela Abdan revela que, embora o custo de geração de uma usina térmica a óleo seja bem reduzido em relação às demais fontes de energia termelétrica, o custo médio do combustível por megawatt/hora é o mais caro.
Enquanto o custo médio do óleo usado por uma usina atinge R$ 388,98 megawatt por hora, o das usinas nucleares é de R$ 13,08 megawatt/hora e o de uma térmica a gás alcança R$ 80,45.
“A opção pelo óleo combustível é a mais desfavorável possível. Não só em termos de poluição, de emissão de gás carbônico, mas em termos de custo também”, acredita Fabrício.
Para o executivo, de todas as usinas térmicas, a mais barata para ser operada, depois de construída, é a nuclear.
O presidente da Abdan defendeu, entretanto, que diante da perspectiva de crescimento econômico do Brasil acima de 5% ao ano, o país deve utilizar todas as fontes de energia que tiver. “Nós estamos numa fase em que o país está querendo dar um salto para a frente e a energia é um gatilho para isso. Sem energia, nós estamos perdidos”, concluiu Ronaldo Fabrício.
(Por Alana Gandra, Agência Brasil, 02/11/2007)