Mais de 90% da eletricidade consumida no Brasil é gerada em usinas hídricas – energia freqüentemente citada como “limpa”, em especial porque não emitiria gases de efeito estufa. A comparação com outras fontes muitas vezes confirma as vantagens nesse quesito, mas estudos a partir do início da década de 90 começaram a colocar em xeque a idéia de "impacto zero" dessas usinas para as mudanças climáticas.
O relatório Emissões de Dióxido de Carbono e de Metano pelos Reservatórios Hidrelétricos Brasileiros, publicado em 2006 pela Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima conclui que, apesar das comprovadas emissões de gases de efeito estufa, principalmente dióxido de carbono e metano, “em termos comparativos [as hidrelétricas] são uma solução viável de abatimento das emissões na geração de energia”. Mas ressalva que a energia hidrelétrica “não é uma fonte isenta de emissões atmosféricas, tal qual se afirmava em estudos ambientais da década de 70 e 80”.
O documento, elaborado pela Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), traz comparações de emissões de nove hidrelétricas brasileiras – Samuel (RO), Xingó (AL, BA, SE), Miranda (MG), Três Marias (MG), Barra Bonita (SP), Segredo (PR), Itaipu (PR) e Serra da Mesa (GO) – com termelétricas de mesmo potencial.
Os dados apontam dois casos nos quais seria melhor a utilização de usinas térmicas no lugar de hídricas para garantir menos contribuição para o efeito estufa: Samuel, que emite 535.407 toneladas de carbono por ano, e Três Marias, responsável por 540.335 mil toneladas anuais, pelos cálculos da Coppe. Termelétricas a carvão com mesmo potencial energético emitiriam 237.492 e 435.401 toneladas anuais de carbono, respectivamente, concluem os pesquisadores.
Nas outras sete usinas analisadas, a geração hidrelétrica é menos prejudicial no que diz respeito a mudanças climáticas que as termelétricas. Caso de Itaipu, por exemplo, que emite 23.497 toneladas de carbono por ano em comparação a mais de 13 milhões que seriam emitidos por uma térmica equivalente. Apesar do bom resultado comparativo, juntas, as nove hidrelétricas analisadas emitem cerca de 5 milhões de toneladas de carbono anualmente, segundo a Coppe.
Na avaliação do presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, essas quantidades são “desprezíveis” e continuar investindo em geração hidrelétrica é uma solução “indubitavelmente” mais viável para o setor energético brasileiro. “É uma quantidade totalmente desprezível; não é significativa”, avalia.
Para Tolmasquim, as vantagens das hidrelétricas sobre as termelétricas em relação à contribuição para o aquecimento global são indiscutíveis. “Não tenho dúvida de que a hidrelétrica é uma energia limpa. Essa discussão [hidrelétricas versus termelétricas] é interessante do ponto de vista acadêmico, mas no mundo real a gente só comprova que a hidrelétrica é mais interessante que a térmica”.
Menos categóricos, pesquisadores e cientistas ouvidos pela Agência Brasil avaliam que os investimentos em hidreletricidade valem a pena desde que as usinas sejam bem projetadas e os projetos considerem as futuras emissões de gases de efeito estufa, além de outros impactos ambientais.
(Por Luana Lourenço, Agência Brasil, 02/11/2007)