Desde o início de setembro, parte do Rio São Francisco sofre com a proliferação de cianoalgas, ou algas azuis. São espécies, que apesar de fazer parte da fauna aquática, se desenvolvem rapidamente em determinadas condições – poluição e variações climáticas, por exemplo – e podem liberar toxinas que contaminam a água e a carne dos peixes.
“A poluição é um problema recorrente da região porque o Rio das Velhas [um dos principais afluentes do São Francisco] drena a região metropolitana de Belo Horizonte, que é a área mais densamente povoada da Bacia do São Francisco”, aponta o professor e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Alexandre Godinho. Por conta do ecesso de algas, o governo do estado proibiu a pesca em 600 quilômetros da bacia, de 16 a 31 de outubro.
Apesar de reconhecer o lançamento direto de esgoto nos rios, o chefe do laboratório central da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), Aires Horta, atribui a proliferação das algas principalmente a fatores climáticos. “O longo período de estiagem que nós tivemos esse ano, com falta de chuva, e, conseqüentemente, nível mais baixo dos rios e água muito límpida foi o fator principal para o desenvolvimento desses organismos”, enumera.
“Se fosse só o clima, como eles argumentam, outros rios também estariam contaminados. Isso se concentrou no [Rio das] Velhas por causa dos elevadíssimos índices de poluição”, aponta o representante da Comissão Pastoral da Terra que atua em comunidades do São Francisco, Alexandre Gonçalves.
Na avaliação de Alexandre Godinho, além dos impactos imediatos, a poluição na Bacia do São Francisco também acarreta prejuízos a longo prazo. De acordo com o pesquisador, a degradação do hábitat dos peixes atrapalha a piracema – período de reprodução. “Não só dificulta a etapa da reprodução, como a sobrevivência dos filhotes, o que diminui a abundância dos peixes. Com a redução do pescado, há a conseqüente diminuição da renda dos pescadores e da economia local”, aponta.
Por causa do alta concentração de toxinas na água, o governo mineiro chegou a proibir a pesca em trechos do Rio das Velhas e do São Francisco. A expectativa da autoridades é que a situação dos rios melhore com a chegada do período chuvoso. “O início das chuvas na região metropolitana de Belo Horizonte já começou a ter reflexos lá [nos rios]. A tendência é que a situação volte ao normal em menos de um mês”, avalia o representante da Copasa.
O representante do Sistema Estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais(Sisema), Paulo Carvalho, reconhece que esperar a chuva resolver o problema é apenas uma solução emergencial. “Estamos vigilantes em relação a agressões ambientais”, afirmou. Segundo Carvalho, o governo mineiro está investindo em medidas “de longo prazo”, como a construção de estações de tratamento de esgoto e de gerenciamento de resíduos sólidos.
(Por Luana Lourenço, Agência Brasil, 02/11/02007)