A campanha ‘Pet vazia, coração cheio’ – uma parceria entre as padarias do Distrito Federal e a Brasal Refrigerantes S.A – não se resume à troca de quatro garrafas de Pet por um pãozinho francês. A destinação das Pets é, na verdade, o principal objetivo da mobilização, uma vez que uma garrafa pode levar até 500 anos para se decompor. Assim, todo o material coletado é encaminhado para a ‘Cooperativa 100 Dimensão’, localizada no Riacho Fundo II, para serem reaproveitados. Parte das garrafas é transformada em matéria-prima. Já uma outra parcela é destinada à produção de mercadorias. Os artesões da Cooperativa transformam o que aparenta ser lixo em puffs, poltronas, luminárias, vasos de flores e até em ambientação para festas.
Consciência ecológica leva padarias do DF a trocarem pães por garrafas pet
A diretora presidente da Cooperativa, Sônia Maria da Silva, conta que, por mês, tem recebido seis toneladas e meia de garrafas Pet, coletadas nas padarias. “As garrafas doadas têm contribuído para o aumento da renda dos cooperados. O aumento de matéria-prima reflete diretamente no aumento da produção”, diz. Segundo ela, as mercadorias são vendidas em grandes feiras e exposições. “As faculdades e órgãos públicos nos chamam para expor nosso trabalho. É nesses eventos que vendemos nossos produtos”, conta. O preço de um puff, por exemplo, pode variar de R$ 35 a R$ 100 .
Ao chegaram ao galpão, onde funciona a Cooperativa, as Pets que serão transformadas em mercadorias passam por um processo de produção. Primeiro, elas são pesadas, registradas nas planilhas de doações de cada padaria, limpas e separadas por cores, para, só depois, irem para as mãos dos artesões. “Oitenta por cento do valor arrecadado vai para o artesão, e 20% para a Cooperativa. Gosto de ressaltar que nossa intenção é capacitar as pessoas para terem seu próprio negócio. Poderíamos monopolizar tudo aqui, mas a idéia é ajudar os outros”, explica o administrador da Cooperativa, Edgar Moreira, de 23 anos.
Já uma outra parcela das Pets é pesada e vendida a R$ 0,69 o quilo para as indústrias, que as transformam em matéria-prima novamente. Para o cooperado Edson Peninha Mota, 45 anos, o valor é baixo, mas a expectativa é que ele aumente. “Ganhamos uma máquina de prensa recentemente. Quando começarmos a prensar as Pets, o quilo dela sairá mais caro, por R$ 1. Pode parecer pouco, mas quando se trata de toneladas, o valor final é enorme”, conta. Peninha, como é conhecido, trabalha há nove anos na Cooperativa. “Deixei de aceitar muitos empregos e prestar concurso público para estar aqui. Sempre acreditei que ia dar certo”, afirma.
A Cooperativa é formada hoje por 280 famílias. A cooperada Domingas de Jesus Farias, 48 anos, lembra bem como tudo começou. “Éramos 20 pessoas. Catavamos Pets nas costas, na cabeça e em carrinhos de mão debaixo do sol quente. Hoje, quem entra está no paraíso. Foram muitos meses sem receber nada. Lembro que uma vez, em cinco meses de trabalho, consegui R$ 57. Mas acreditei quando me disseram que um dia seria uma microempresária e estou perto disso. No meio do lixo, descobrimos uma vida maravilhosa”, emociona-se. Domingas diz que arrecada R$ 500 por mês. “Um dia, ainda vou me formar em agente fiscal da natureza”, sonha.
Cooperativa Sem Dimensão
A Cooperativa recicla todo o tipo de resíduos sólidos como jornais e papelões. Eles também são transformados em mercadorias recicláveis como álbuns de fotografia, cartões e bloquinhos de papel.
(Por Cecília de Castro, CorreioWeb, 02/11/2007)