Um estudo feito na bacia do Paraíba, área geológica que envolve os estados de Pernambuco e Paraíba, busca evidências da extinção dos dinossauros, ocorrida há cerca de 65 milhões de anos. A região é uma das duas na América do Sul que apresenta vestígios de queda de meteorito que pode ter sido a causa da extinção dos grandes animais no fim do Cretáceo.
As investigações de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) relacionaram a existência de isótopos de oxigênio e de carbono nas amostras de rochas coletadas na região. Os dados são coerentes com os levantamentos de outras 75 regiões do planeta onde também foram encontrados vestígios de mudanças climáticas causadas pelo impacto.
Segundo Maria Valberlândia Silva, da UFPE, o levantamento dos isótopos de oxigênio e do carbono permite calcular a oscilação da temperatura e da salinidade do oceano, além da deposição de matéria orgânica na rocha decorrente da morte de animais e plantas.
A geógrafa apresentou os primeiros resultados da pesquisa durante o 11º Congresso Brasileiro de Geoquímica, realizado na semana passada em Atibaia (SP).
“A região em que fazemos os estudos estava totalmente coberta pelo mar, por isso guardou evidências das características do oceano daquela época”, disse à Agência FAPESP.
O estudo comparou a concentração dos isótopos 16 e 18 do oxigênio. Isótopos são variações do peso atômico de um elemento químico. No caso do oxigênio, a diferença de peso entre os dois isótopos influencia em seu comportamento no meio ambiente.
Com maior peso, o isótopo 18 ficou mais concentrado quando o oceano estava em temperaturas elevadas. “O aumento da temperatura do mar fez o isótopo 16 ser evaporado com a água, concentrando o isótopo 18”, explicou Maria Valberlândia. Posteriormente esse isótopo mais pesado se agregaria à rocha tornando possíveis as pesquisas atuais.
De acordo com a pesquisadora, a oscilação da temperatura do mar está intimamente ligada à salinidade da água. Com a temperatura elevada, mais água é evaporada e o mar fica com maior concentração salina.
Um gráfico mostra a curva de concentração dos dois isótopos de oxigênio. As curvas acompanham as estimativas de temperatura do oceano no período em que ocorreu o impacto do meteorito e as mudanças no clima decorrentes. “Os dados coincidem com estudos em outras regiões do mundo”, disse.
Em relação à concentração dos isótopos 12 e 13 do elemento carbono, foi possível medir a mortandade de animais e vegetais em um determinado período. A concentração do isótopo mais pesado aponta para um enriquecimento do carbono, decorrente do maior número de mortes e da posterior agregação da matéria orgânica, rica em carbono, nas rochas.
O levantamento da equipe da UFPE foi feito em um afloramento na cidade de Olinda. Foram feitos furos de até 80 metros de profundidade para encontrar rochas que não foram alteradas com o tempo. Segundo Maria Valberlândia, a região da bacia de Neuquén, na Argentina, apresenta as mesmas evidências.
Extinção em massa
Uma cratera de 180 quilômetros de diâmetro na península de Iucatã, no Golfo do México, é uma das principais evidências da teoria da extinção dos dinossauros devido ao impacto de um meteorito.
Após o choque do meteorito, uma grande nuvem teria coberto a atmosfera terrestre, causando um resfriamento global. Outras pesquisas mostram que fenômenos anteriores à queda do meteorito aumentaram a temperatura do planeta. Os grandes animais não teriam se adaptado às mudanças bruscas no clima e acabaram extintos.
O 11º Congresso Brasileiro de Geoquímica fez parte das comemorações do Ano Internacional do Planeta Terra, com debates relacionados ao meio ambiente, educação e saúde. Uma programação paralela integrou a população de Atibaia às comemorações do ano internacional.
(Por Murilo Alves Pereira, Agência Fapesp, 31/10/2007)