O plantio de 68 mil mudas da mata atlântica anunciado pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) não compensará a destruição do rio provocada por empreendimentos como a Usina Hidrelétrica de Aimorés. A usina é da própria Vale e da Cemig, e foi construída fora do local tecnicamente indicado somente para gerar impostos para Minas Gerais, deixando o Espírito Santo de fora dos lucros.
A afirmação de que os plantios anunciados não reverterão os danos causados ao Rio Doce é do ambientalista Freddy Montenegro Guimarães, presidente da Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente (Acapema). O rio está morto pela intensa degradação de toda a bacia, tanto pelo desmatamento desenfreado, como por plantios irregulares de café e pastagens.
Também destruíram o Rio Doce o lançamento de esgotamentos sanitários domésticos e industrias sem tratamento ao longo da bacia, e as barragens das usinas de Aimorés e Mascarenhas. Mascarenhas é da Escelsa - Energias do Brasil.
“Qualquer pessoa que conhece o Rio Doce sabe que após a construção da usina o rio mudou completamente. O fluxo na foz está reduzido à metade. Essa é a maior evidência de que houve alteração na bacia. E com ela, o rio que adentrava o oceano como uma cunha, provocando o Giro de Vitória e levantando nutrientes que servem de alimentos para os peixes de boa parte da costa brasileira, já não cumpre este papel”, avalia Freddy Guimarães. O presidente cobra que se estude este impacto.
A Vale anunciou na terça-feira (30/10) que o plantio de 68 mil mudas de espécies da mata atlântica será realizado nos municípios de Baixo Guandu, no Espírito Santo, e Aimorés e Resplendor, em Minas Gerais. A empresa destacou que o investimento é de R$ 2,6 milhões, e inclui outras ações.
Na realidade, com a construção da Usina Hidrelétrica de Aimorés, a Vale e a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) geraram enormes impactos ambientais, além dos econômicos, ao Espírito Santo. A instalação daquela hidrelétrica somente beneficiou o estado de Minas Gerais.
Para Minas Gerais está sendo levado todo o ICMS arrecadado com a geração de energia: o Espírito Santo está ficando apenas com o ônus social e ambiental provocado pela usina.
A Usina Hidrelétrica de Aimorés foi tomada do Espírito Santo por uma fraude praticada pelo consórcio CVRD/Cemig e contou com a conivência de mineiros infiltrados no governo capixaba. A construção deveria ser no Espírito Santo, em Baixo Guandu, onde provocaria menos impactos ambiental, social e econômico.
Para construção da usina, que gera 330 MW de energia, houve o desvio do curso natural do Rio Doce em 12 quilômetros, inclusive no Espírito Santo. Foram prejudicados pescadores profissionais no Espírito Santo e em Minas Gerais. E proprietários de terras, principalmente no lado mineiro.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 01/11/2007)