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primatas em extinção
2007-10-31
Os parentes vivos mais próximos da espécie humana na escala evolutiva – os chimpanzés, gorilas, lêmures e outros primatas – estão sob ameaça sem precedente devido à destruição de florestas tropicais e ao comércio ilegal de animais silvestres e carne de caça. Segundo um novo relatório apresentado pelo Grupo de Especialistas em Primatas da Comissão de Sobrevivência das Espécies (SSC) da União Mundial para a Natureza (IUCN) e pela Sociedade Internacional de Primatologia (IPS), em colaboração com a Conservação Internacional (CI), 29% das espécies de primatas está sob risco de extinção.

Intitulado Primates in Peril: The World’s 25 Most Endangered Primates—2006–2008 (Primatas em Perigo: Os 25 Primatas mais ameaçados do mundo – 2006-2008), o relatório compilado por 60 especialistas de 21 países alerta que se falharmos nas respostas às crescentes ameaças, atualmente exacerbadas pelas mudanças climáticas, veremos as primeiras extinções de primatas em mais de um século. O estudo indica que 114 das 394 espécies de primatas estão classificadas como ameaçadas de extinção na Lista Vermelha da IUCN.

Os caçadores abatem primatas para subsistência ou para a venda de carne; comerciantes capturam-os vivos para venda, madeireiros, fazendeiros e urbanizadores destróem seus hábitats. Acredita-se que uma espécie, o colobo-de-waldron, habitante da Costa do Marfim e de Gana, já esteja extinta. Calcula-se que o langur-dourado do Vietnam e o gibão-de-hainan, na China, têm populações muito reduzidas, na casa das dezenas. O lóris-esbelto vermelho, do Sri Lanka, foi avistado apenas quatro vezes desde 1937.

"Todos os sobreviventes destas 25 espécies cabem dentro de um estádio de futebol; isso mostra os quão poucos restam no planeta hoje", afirma Russel A. Mittermeier, presidente da CI, que também é chefe do Grupo de Especialistas em Primatas da IUCN/SSC. "A situação é pior na Ásia, onde a destruição da floresta tropical, caça e comércio de macacos coloca muitas espécies sob grande risco. Até mesmo as espécies recém-descobertas estão gravemente ameaçadas pela perda de seu hábitat e poderão desaparecer logo".

Como "espécies-bandeira" para conservação e nossos parentes vivos mais próximos, os primatas não-humanos são importantes para a saúde dos ecossistemas em seu entorno. Através da dispersão de sementes e outras interações com seus ambientes, os primatas ajudam a manter um vasto leque de vida vegetal e animal que compõem as florestas da Terra.

A lista dos 25 primatas mais ameaçados do mundo (clique aqui para acessar ), compilada no 21º Congresso da Sociedade Internacional de Primatologia realizado em Entebe, Uganda, segue a mesma metodologia desde sua primeira edição em 2000. Oito dos primatas desta lista, incluindo o orangotango de Sumatra, na Indonésia, e o gorila de Diehl, encontrado na República dos Camarões e na Nigéria, são "tetra-perdedores", porque também já foram incluídos nas três listas anteriores. Seis outras espécies foram incluídas na lista pela primeira vez, incluindo um macaco tarsier indonésio recém-descoberto que ainda não foi formalmente registrado.

A intenção principal dessa lista é de chamar atencão para a situação crítica de alguns dos primatas mais ameaçados. Com isso, atrair investimentos e esforços para promover pesquisas e investigações para mitigar as ameaças por meio de medidas tais como a fiscalização, a criação de áreas protegidas e programas de criação em cativeiro. Existem muitas espécies precisando urgentemente de maiores atenções nesse sentido, e assim a lista precisa ser dinâmica e indicar comparativamente aquelas espécies com maior nível de ameaça.

Brasil – A lista anterior (2004-2006) era composta por três espécies do Brasil. Todas da Mata Atlântica: mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus caissara), macaco-prego-do-peito-amarelo (Cebus xanthosternos) e muriqui do norte (Brachyteles hypoxanthus), também conhecido como mono-carvoeiro. Na relação atual, os primatas brasileiros ficaram de fora.

Na avaliação dos pesquisadores, embora os animais brasileiros continuem ameaçados, os esforços conjuntos de instituições do governo, organizações não-governamentais e o acúmulo de anos de conhecimento sobre as espécies e o habitat onde vivem mitigaram parte dos problemas que comprometem a sobrevivência dos animais. Outro fator que tirou da lista atual os macacos brasileiros foi a piora da situação de outros primatas em outras partes do mundo. Embora os resultados sejam um pouco mais positivos, ainda é preciso mais investimentos no monitoramento das principais populações, na análise da diversidade genética intra e interpopulacional, e na criação e implementação de unidades de conservação, para garantir a proteção a longo prazo da população destas espécies.

Hotspots prioritários para sobrevivência dos primatas - Todos os 25 primatas da lista de 2006-2008 encontram-se nos hotspots de biodiversidade – as 34 regiões de alta prioridade identificadas pela Conservação Internacional que cobrem apenas 2,3% da superfície terrestre do planeta, mas abrigam mais de 50% de toda a diversidade vegetal e animal da Terra. Oito hotspots são considerados de altíssima prioridade para a sobrevivência dos primatas mais ameaçados de extinção: Indo-Burma, Madagascar e as ilhas do Oceânico Índico, Sunda (Indonésia, Malásia e Brunei), Florestas de Afromontana na África Oriental, as Florestas Costeiras da África Oriental, as Florestas da Guiné na África Ocidental, a Mata Atlântica brasileira e o Ghats Ocidental – Sri Lanka.

A lista atual, 2006-2008, chama a atenção à situação alarmante do crescimento das taxas de desmatamento e a destruição das florestas dos Andes no Peru, Colômbia e Equador. Madagascar e Vietnam têm quatro primatas na lista cada um, enquanto que a Indonésia tem três, seguida pelo Sri Lanka, Tanzânia, Costa do Marfim, Gana e Colômbia, com dois primatas cada. A China, República dos Camarões, Guiné Equatorial, Quênia, Nigéria, Mianmar, Bangladesh, Índia, Peru, Venezuela e Equador têm, cada um, um primata na lista. Dentre os 25 listados, alguns primatas são encontrados em mais de um país. Por região, a lista inclui 11 espécies da Ásia, sete da África, quatro de Madagascar e três da América do Sul, mostrando que os primatas não humanos estão ameaçados onde quer que se encontrem.

A perda dos hábitats provocada pelo corte das florestas tropicais para a agricultura, exploração madeireira e coleta de lenha para combustível, continua a ser o principal fator para a redução do número de primatas segundo o relatório. O desmatamento tropical também emite 20% do total dos gases do efeito estufa, que provocam mudança climática, o que representa mais do que a emissão de todos os automóveis, caminhões, trens e aviões do planeta reunidos. Além disso, a mudança climática está alterando os hábitats de muitas espécies, tornando aquelas que vivem em pequenos territórios ainda mais vulneráveis à extinção.

"Protegendo as florestas tropicais que ainda restam no mundo, salvaremos os primatas e outras espécies ameaçadas, ao mesmo tempo em que impediremos que mais dióxido de carbono entre na atmosfera e aqueça o clima", observa Mittermeier.

A caça de subsistência e com finalidades comerciais representa uma grande ameaça aos primatas, especialmente na África e na Ásia. A captura de espécimes vivos para o comércio de animais de estimação também significa uma séria ameaça, especialmente para as espécies asiáticas.

A lista de 2006-2008 concentra-se na gravidade da ameaça global e não apenas nos números. Algumas das espécies na lista, como o orangotango de Sumatra, ainda são encontrados em poucos milhares, mas estão desaparecendo num ritmo mais rápido do que os outros primatas. Outros foram descobertos apenas recentemente, e suas reduzidas populações e territórios os tornam especialmente vulneráveis à destruição de seus hábitats e outras ameaças.

Clique aqui para ver o relatório na íntegra.

(Eco Agência, 31/10/2007)







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