A maior represa do Iraque está sob risco de ruptura iminente, o que poderia gerar uma onda de 20 metros sobre a cidade de Mosul, que tem 1,7 milhão de habitantes, de acordo com alerta de autoridades americanas no país. Em maio, os americanos pediram às autoridades iraquianas que dessem prioridade à represa em Mosul, já que, segundo os Estados Unidos, a ruptura da represa poderia resultar em muitas mortes.
No entanto, um projeto de reconstrução avaliado em US$ 27 milhões pouco avançou. O Iraque afirma que está reduzindo os riscos e insiste que não há razão para preocupação. O escritório do Inspetor Geral Especial para a Reconstrução do Iraque (Sigir, na sigla em inglês), órgão americano de fiscalização das obras, disse que a reconstrução está sendo prejudicada por má administração e fraude.
Em um relatório publicado nesta terça-feira, o inspetor diz que "soluções de curto prazo" financiadas pelos Estados Unidos ainda não resolveram o problema. Segundo o Sigir, vários dos 21 contratos para reparos apresentam problemas, incluindo serviços que não foram completados apesar de já terem sido pagos.
Problemas estruturaisA represa tem trazido problemas para os engenheiros iraquianos desde que foi concluída, em 1984. Ela foi construída em terreno rico em sulfato de cálcio hidratado, um tipo de gesso natural, o que provocou vazamentos meses após a conclusão da obra e levou os investigadores a descrevê-la como "fundamentalmente comprometida". Em setembro de 2006, engenheiros do Exército americano concluíram que a represa, situada no rio Tigre, a pouco mais de 70 quilômetros de Mosul, representava um risco inaceitável.
Os especialistas disseram aos militares americanos que removessem seus equipamentos da bacia do rio Tigre na região próxima a Mosul por causa da instabilidade da represa. O mais alto comandante americano no Iraque, o general David Petraeus, e o embaixador Ryan Crocker escreveram ao primeiro-ministro iraquiano Nouri Maliki pedindo providências urgentes.
A carta, enviada no dia 3 de maio, dizia: "Uma ruptura catastrófica da represa Mosul resultaria em uma inundação ao longo do rio Tigre até Bagdá". Segundo os americanos, se a ruptura ocorresse com a represa cheia até sua capacidade máxima, cerca de 500 mil pessoas poderiam morrer.
PânicoAs autoridades iraquianas, no entanto, dizem que estão adotando medidas para reduzir os riscos e não acreditam que haja razão para preocupação. O ministro iraquiano para Água, Latif Rashid, disse à BBC que várias medidas foram tomadas para resolver o problema, inclusive uma redução no nível de água na represa e uma operação contínua, 24 horas por dia, para rebocar as suas fundações.
Mais obras estão previstas para o próximo ano, de acordo com Rashid. O correspondente da BBC em Bagdá, Jim Muir, afirma que a discussão sobre a represa tem sido conduzida nos bastidores para evitar pânico na população ou o interesse dos insurgentes que atuam no país.
(
BBC, 30/10/2007)