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emissões de gases-estufa
2007-10-31


A contaminação aérea na capital egípcia chega a tal ponto que para cada um de seus 18 milhões de habitantes é como se fumasse 20 cigarros por dia. Mas uma mudança no processo de fabricação de tijolos reduziu substancialmente as emissões de gases causadores do efeito estufa. A Organização Mundial da Saúde assegurou que cada morador da cidade do Cairo está exposto a mais de 20 vezes a quantidade aceitável de contaminação. Um informe de 2002 do Banco Mundial também calcula que a contaminação causa danos ambientais no valor de US$ 2,4 bilhões ao ano, cerca de 5% do produto interno bruto do Egito.

A culpa por este dano ambiental, em parte, é da indústria. Os piores geradores de contaminação são as fabricas, que para obter energia queimam mazot (nome do óleo pesado que resta depois que combustíveis mais valiosos são extraídos do petróleo). Com essa queima são emitidas quantidades substanciais de gases causadores do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento do planeta. O ministério de Meio Ambiente continua prometendo novas medidas para responsabilizar os culpados das indústrias pela contaminação do ar, mas não consegue fazer com que sejam cumpridas. Porém, há sinais de esperança em outras partes. Um grupo de empresários canadenses e fabricantes egípcios passaram do combustível pesado para o gás natural.

Essas fábricas habitualmente trabalham alinhadas, o que leva a uma concentração das emissões, com graves efeitos sobre o meio ambiente e a saúde das comunidades vizinhas. Mudando para o gás natural, a experiência reduz drasticamente a contaminação e as emissões de carbono pelas fábricas, com os benefícios que isso implica. A conversão para o gás natural foi iniciada pelos proprietários da fábrica egípcia. Eles precisavam de assistência técnica e financeira para concretizar a mudança, e se aproximaram da canadense Richard Szudy, então líder em projeto Climate Change Initiative (CCI-Iniciativa sobre a Mudança Climática), em busca de ajuda.

A CCI é um programa financiado internacionalmente que busca reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa no Egito. Seu pedido foi atendido no ano passado, quando a governamental Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional financiou um programa-piloto para converter 50 fabricas de tijolo alimentadas com gás natural. A indústria de tijolos é uma das mais antigas do país. Desde a época dos faraós, os tijolos elaborados a partir do barro, são principal material da construção no Egito, e sua fabricação mudou muito pouco nos últimos séculos.

A indústria ainda usa uma metodologia onde barris cheios de mazot são colocados na parte superior dos fornos abrasdores, com uma tubulação que se estende até uma pilha de tijolos. O mazot sai do cano e é aceso, cozendo os ladrilhos. Introduzir uma nova tecnologia nestas condições era “perigoso”, disse Szudy, agora diretor da Idea Egypt, uma empresa com sede no Cairo. “Tivemos que selecionar uma tecnologia suficientemente robusta para manejar essa atividade tão dura, e suficientemente simples para a capacidade rudimentar de muitos dos trabalhadores, que em boa parte são analfabetos”, afirmou.

A área industrial de Arab Abu Sayed, a alguns quilômetros do centro do Cairo, tem a maior concentração de fábricas de tijolos no Egito: quase 200. A área também tem uma população entre 80 mil e cem mil pessoas, 45% delas crianças. O CCI analisou os efeitos da queima de mazot nesta região durante a fase-piloto. Quase 60 produtos químicos liberados pela queima foram identificados em amostras de ar e solo, muitos deles agressivos cancerígenos presentes em quantidade muito superiores às permitidas em nível nacional. “Cada criatura viva desta aérea está sofrendo”, assegurou Hatem El-Bassyouni, gerente de projeto da Idea Egypt.

Apesar destas importantes descobertas, os donos de fábricas foram mais influenciados pela eficiência do gás natural e pela economia resultando no custo do combustível, disse Zudy. “Eles não estão fazendo isso pelo meio ambiente. Muitos poucos em qualquer parte do mundo realmente farão investimentos apenas pelo meio ambiente”, disse. A eficiência permitiu aos proprietários recuperar o custo de mudar para o gás natural no prazo de um ano e continuar com uma economia anual de US$ 20 mil. Além disso, o processo do gás cria um tijolo de qualidade muito superior ao elaborado com base na queima de mazot.

Deixando de lado as intenções dos proprietários, a qualidade do ar no entorno circundante também melhorou substancialmente. Espera-se que cada conversão de uma fábrica de tijolos reduza anualmente em 37% - ou duas mil toneladas – os gases causadores do efeito estufa. Ter 50 fábricas funcionando com base no gás supõe uma economia equivalente a retirar 300 mil automóveis das ruas do Cairo, uma cidade com três milhões destes veículos. A passagem para o gás também criou uma diferença visível. Antes, as dezenas de chaminés em Arab Abu Said apenas podiam ser vista a meio quilometro da área, porque o ar estava carregado de smog. Com um quarto das fábricas usando gás natural, agora elas sai visíveis a vários quilômetros de distancia.

A história do sucesso do projeto de conversão logo se expandiu e outros proprietários de fabricas pediram para serem incluídos. O que começou como um projeto de desenvolvimento evoluiu até se converter em uma empresa financiada com fundos privados e administrada pela Idea Egypt com investimentos canadenses. Atualmente, há 311 fabricas dispostas a fazer a conversão, o que reduzirá as emissões de carbono ao equivalente a retirar quase 1,9 milhão de carros das ruas da capital egípcia. Os funcionários do projeto também esperam que o empreendimento seja aprovado como iniciativa do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).

O MDL é um dos vários processos estabelecidos no Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, perante a Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança climática para ajudar a reduzir os gases causadores do efeito estufa. O mecanismo permite que as nações industrializadas cumpram objetivos estabelecidos para a redução desses gases investindo em projetos que reduzam suas emissões em países em desenvolvimento. A aprovação do MDL dará à Idea Egypt Reduções Certificadas das Emissões, que podem ser comercializadas internacionalmente com créditos de carbono. Até agora, apenas quatro projetos neste país se prepararam para começar a vender créditos de carbono.

Segundo Szudy, os projetos do MDL são de risco e os ganhos podem ser muito variáveis: Idea Egypt apenas espera ingressos procedentes dos créditos de carbono no terceiro ano do projeto. Embora o preço desses créditos variem dia a dia, os ganhos totais para esta empresa a partir do comércio de emissões poderiam chegar a US$ 90 milhões na próxima década. Se os países não estenderem suas obrigações sob o Protocolo de Kyoto depois 2012, o projeto poderá gerar apenas o valor de três anos de vendas de créditos de carbono. O custo total do projeto é de US$ 46 milhões, sendo que US$ 30 milhões são de investidores.

Mas, alterar a cara da indústria de tijolos é lago mais do que transferência de tecnologia e redução de gases que causam o efeito estufa. “Seria uma vergonha nos centrarmos apenas nesses gases. Isso é valioso em todo o mundo, claro, mas o que queremos conhecer é o impacto final sobre a comunidade local”, explicou Szudy. Durante o projeto-piloto, Idea Egypt fez entrevistas com trabalhadores das fábricas e colheu informação extensa sobre suas duras condições de vida e trabalho.

Eles vivem no mesmo lugar onde a fábrica está instalada. Às vezes, são 12 em uma casa de apenas um quarto. “Eles não têm assistência médica nem acesso a primeiros socorros, nem a educação, à água potável ou ao saneamento. É uma qualidade de vida terrível”, enfatizou El-Bassyouni. Durante o projeto-piloto, Idea Egypt trabalhou com uma agência egípcia para o desenvolvimento a fim de dar aulas de educação informal a adolescentes que trabalham nas fábricas. Um ônibus os recolhia nas fábricas para que pudessem assistir às aulas na hora do almoço. “Foi uma oportunidade para que fossem crianças e simplesmente brincassem”, disse Szudy. Comumente, mais de 80 crianças assistiam às aulas no edifício escolar de apenas uma sala.

Além do projeto-piloto, Idea Egypt insistiu para os investidores financiarem aulas de educação informal bem como outros tipos de programas sociais para a próxima onda de conversões de fábricas. Durante uma visita feita pela IPS à Arab Abu Said, os moradores são rápidos em se referir ao ar mais limpo. E durante uma aula para os jovens trabalhadores na hora do almoço pode-se ver os efeitos deste projeto em suas vidas. Pouco depois de chegarem, parecem ter redescoberto sua infância. Seus rostos cansados se transformavam enquanto cantavam em voz alta e, de modo impulsivo, se abraçavam.

(Por Leslie-Ann Boctor, IPS, 30/10/2007)
* Este artigo é parte de uma série sobre desenvolvimento sustentável produzida em conjunto pela IPS (Inter Press Service) e IFEJ (siglas em inglês de Federação Internacional de Jornalistas Ambientais)


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