A destruição das florestas tropicais, a mudança climática, a caça desenfreada e o comércio de animais selvagens podem levar ao desaparecimento de 29% dos parentes mais próximos do homem entre os animais, os macacos, alerta relatório divulgado na Suíça pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Entre as espécies mais ameaçadas, 11 estão na Ásia, sete na África (os bonobos são os que correm mais perigo), quatro em Madagascar e três na América do Sul. Participaram da redação do documento 60 naturalistas de 21 países.
O grupo chama a atenção, na introdução do estudo, para um fato que consideram preocupante: pela primeira vez em mais de um século, estão ocorrendo casos de desaparecimento de símios. Das 349 espécies registradas no mundo inteiro, 114 foram incluídas este ano na relação dos animais em sério risco, preparada pela UICN. Entre os gibões e langures restam poucas dezenas de exemplares, e um tipo de colobo pode ter tido o mesmo destino que os dodôs, segundo um estudo sobre os 25 primatas mais vulneráveis.
Perigo
"Pode-se colocar todos os membros sobreviventes dessas 25 espécies num só estádio de futebol, de tão poucos que restam sobre a Terra”, lamentou Russell Mittermeier, presidente da Conservação Internacional, entidade com sede nos EUA. Entre essas espécies há grandes primatas, como os chimpanzés e gorilas, e também macacos menores. Eles são muito caçados para fornecerem comida e remédios tradicionais ou como mascotes, e alguns são aprisionados também para fins de pesquisas médicas. Também é comum que se matem na disputa por alimentos e espaços, cada vez mais limitados por causa do desmatamento.
"Na África Central e Ocidental, a carne de primatas é um item de luxo para a elite", ressaltou Mittermeier em entrevista à imprensa, falando desde o Camboja. "Aqui, são caçados até mesmo para fins de produção de remédios, sendo que a maioria das espécies mais valiosas vai para mercados no Sudeste da China."
Os orangotangos de Sumatra também estão ameaçados porque são caçados e vendidos como mascotes em Taiwan. Mas bastariam alguns poucos milhares de dólares para proteger muitos dos animais mais vulneráveis, lembrou o naturalista norte-americano, esperançoso de que a divulgação desse relatório incentive as pessoas interessadas a fazer doações a ONGs e sirva de incentivo ao ecoturismo.
Os primatas sobreviveram ao século 20 sem a perda de uma só espécie conhecida – na verdade, novas espécies são descobertas quase constantemente, segundo Mittermeier. Ele acha que proteger esses animais deveria ser relativamente fácil. "Com o que gastamos em um dia no Iraque poderíamos financiar por uma década a conservação de espécies ameaçadas ou em situação vulnerável”, concluiu o cientista.
(
Estado de Minas, 29/10/2007)