"É fundamental mudarmos o nosso estilo de vida"Entrevista com Rachel Biderman Furriela, coordenadora dos programas de sustentabilidade global e consumo sutentável da Fundação Getulio Vargas
Pioneiro: Em que nível a redução do consumo ajuda o meio ambiente?
Rachel Biderman Furriela: Vejo as pessoas conscientes com as questões ambientais, mas está difícil que elas façam uma ligação entre a degradação do meio ambiente e seus estilos de vida. Sem dúvida, o consumo é um dos maiores responsáveis pelo problema ambiental que presenciamos. A sociedade vive num modelo econômico e social muito centrado no consumo intensivo de bens. A produção desses bens necessita de processos industriais ou extrativistas que degradam o meio ambiente. É fundamental uma mudança no estilo de vida e nos hábitos de consumo. Na época dos nossos avós, as pessoas consumiam o que era fundamental e não o supérfluo.
Pioneiro: Isso não significa desemprego?
Rachel: Não, pois a produção sustentável vai continuar gerando empregos. Basta que as empresas se adaptem de forma a respeitar o meio ambiente. De outro lado, vão surgir muitos outros empregos em atividades que resolvam os problemas que temos hoje. De qualquer forma, o desemprego é relativo. O ser humano é criativo o suficiente para encontrar formas de se sustentar. A riqueza será produzida de outra forma, com outros tipos de emprego. E não há outra forma, pois se continuarmos degradando, aí sim que o ser humano deixará de existir.
Pioneiro: E como mudar o estilo de vida?
Rachel: Uma forma bem simples é reduzir ou zerar o consumo de carne, por exemplo. Para produzir um quilo de carne se gasta muito mais área cultivável, água, dinheiro, tempo e outros recursos, do que produzir grãos. O Brasil tem o maior rebanho do mundo e, mesmo assim, há fome. É preciso alterar o processo produtivo para outras formas de produção agrícola mais sustentáveis.
Pioneiro: Isso envolve ações do setor público e privado.
Rachel: Depende de novas políticas públicas, mas também de adaptação do setor privado. As empresas estão acordando para o respeito ao meio ambiente. Até porque isso significará sua sobrevivência daqui há 50 anos. Nenhuma empresa vai resistir no mercado se não adotar certos critérios ecológicos. Os investidores e bolsas de valores não estão investindo em empresas sem projetos que busquem sustentabilidade.
Pioneiro: E de que forma a população pode identificar essas ações?
Rachel: A imprensa é responsável por processar esse monte de informações e passar para a sociedade. Ela não deve lançar as notícias só como coisas ruins, mas de forma positiva, dando esperanças. É também fundamental que os pais saibam selecionar as boas mídias, os bons livros... Nas escolas, os professores precisam discutir essas informações e explicar para as crianças e jovens que precisam assumir seus papéis de bons cidadãos.
Pioneiro: É possível atribuir ao aquecimento global temporais como o ocorrido domingo em Vacaria?
Rachel: Sim, mas os cientistas têm reservas para falar sobre isso. São necessários dados históricos e técnicos para afirmar cientificamente a relação entre esses eventos e as mudanças climáticas. É preciso muito mais investimento em pesquisas e em outras áreas da ciência do clima.
Pioneiro: Como esse investimento retornará à população?
Rachel: Se pudermos provar que as catástrofes ocorrem por causa da poluição, por exemplo, poderemos regulamentar as atividades que poluem. Se não, logo o governo gastará mais em saúde, e vai aumentar os impostos. O cidadão também vai pagar, com aumento do preço dos alimentos, por lavouras perdidas ou falta de água para produzir. Quanto mais investirmos em prevenção, mais próximos estaremos do equilíbrio do planeta.
Na webPara saber mais sobre o assunto, visite os sites do Observatório do Clima (www.clima.org.br), o da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (www.fbds.org.br) ou o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (www.forumclima.org.br)
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Pioneiro, 30/10/2007)