Denúncias, rechaços e pedidos constantes de organizações sociais, ambientalistas e moradores da ilha porto-riquenha de Vieques parecem não sensibilizar o governo norte-americano no sentido de cessar os bombardeios de treino militar na região. Com o recomeço das detonações em setembro último, o Comitê Pró Resgate e Desenvolvimento de Vieques (CPRDV) lançou um comunicado onde exige o uso de câmaras de limpeza ambiental, da mesma forma como é feita nas bases militares fechadas dos Estados Unidos.
No documento, o Comitê pede a retirada da Marinha dos Estados Unidos de Vieques e ressalta a luta pelo fim do lançamento de bombas na ilha, hoje habitada por cerca de 9.400 pessoas. "Nosso povo vive os efeitos da guerra: a contaminação militar e os graves problemas de saúde que provoca; as restrições sobre os espaços geográficos; a emigração forçada e rompimento da família", enumera a entidade.
Mesmo que os exercícios militares acabem imediatamente, os problemas sanitários e ambientais ainda poderão ser vistos durante muitos anos na região. Após 60 anos de bombardeios, a maior parte dos três quartos do território viequense está contaminada por metais liberados pelas bombas utilizadas no local desde a sua expropriação, em 1942.
De acordo com especialistas, o efeito imediato do bombardeio em Vieques é a destruição de delicados ecossistemas na ilha, que sustenta centenas de espécies de plantas e animais que são mortos com o impacto. A longo prazo, estes bombardeios e manobras militares conduzem à séria contaminação do meio ambiente devido aos resíduos tóxicos.
Hoje, água, ar e solo de Vieques apresentam níveis alarmantes de metais pesados e tóxicos, o que faz o município apresentar um índice de câncer de 27% mais alto que no resto de Porto Rico, além de uma alta incidência de doenças nas vias respiratórias e na pele, todas associadas a altos níveis de contaminação ambiental.
"Em Vieques as forças armadas dos Estados Unidos têm lançado mais bombas que em todas as guerras combinadas. Temos sido vítimas de todas as ações militares dos Estados Unidos a partir da Segunda Guerra Mundial", reclama o CPRDV. Desde 1938, a Marinha de Guerra dos Estados Unidos começou a utilizar a Ilha-Município de Vieques para suas práticas militares. Com a prática deslocou os viequenses para o centro da ilha, que hoje tem 75% do seu território ocupada pela Marinha.
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Adital, 26/10/2007)