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2007-10-29
Depois do papel e das latinhas de alumínio, o setor de reciclagem presta cada vez mais atenção em um produto muito comum no cotidiano das pessoas: o óleo de cozinha. Aos poucos, ONGs, políticos e cientistas propõem meios de reutilizar o óleo de fritura e conscientizar a população de que não vale a pena jogá-lo fora. A iniciativa de reciclar o óleo no Brasil ganhou este ano um prêmio da Organização das Nações Unidas (ONU) e está até na legislação do Estado de São Paulo. Os produtos da reutilização vão de sabão a biocombustíveis.

A ONG Triângulo lidera há três anos um projeto em parceria com prefeituras da região metropolitana de São Paulo, empresas e condomínios. Periodicamente, funcionários da ONG recolhem cerca de oito toneladas de óleo em 60 mil residências, escolas e restaurantes cadastrados no ABC paulista e transformam tudo em 11 toneladas de sabão em barra, vendido a R$ 2,50 o quilo. O projeto tem o apoio da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que já fez entrega de um comunicado junto com a conta de luz em alguns bairros da capital paulista.

O sabão é produzido em uma usina na própria ONG. O coordenador da Triângulo, Paulo Correia, diz que todo o dinheiro arrecadado é usado no próprio projeto, no custeio da coleta do óleo nos domicílios e no pagamento de funcionários. Ele explica que a iniciativa é uma experiência que, no futuro, poderá se tornar uma cooperativa, com a contratação de mais pessoas (atualmente são seis que produzem o sabão) e expansão da produção.

E matéria-prima tem de sobra. Com base nos índices de coleta de 2004, Correia estima que cerca de 500 toneladas de óleo são jogadas fora todos os meses. Óleo que, segundo ele, poderia ser reaproveitado em uma nova cadeia produtiva, criando empregos e preservando o meio ambiente. “Conversamos com a sociedade civil sobre os impactos negativos do óleo na natureza e mostramos também o impacto positivo do reaproveitamento”, afirma o coordenador, que nota um aumento na conscientização dos consumidores.

Princípios

Correia diz que o projeto se sustenta em três "princípios", os mesmos que dão origem ao nome da ONG. O primeiro busca conscientizar a população sobre a preservação do meio ambiente urbano. O óleo, quando despejado na natureza, provoca a desoxigenação de rios e lagos. Por ser menos densa, a substância se acumula em cima da linha d'água e impede a troca de gases com a atmosfera. O óleo também bloqueia parte da luz solar e dificulta a fotossíntese da flora marinha. Além disso, segundo a Sabesp, o óleo de cozinha pode provocar entupimento da tubulação e refluxo do esgoto.

O projeto expõe ainda, diz Correia, a responsabilidade social, o segundo conceito. Com a experiência da usina de sabão, a Triângulo pretende mostrar que é possível uma atividade econômica sustentável, que produza riqueza, com menor impacto ambiental possível. “O projeto pretende conscientizar também as pessoas a refletirem sobre sua maneira de consumir, a pensarem que impacto aquilo que ela consome terá no meio ambiente e na sociedade”, diz. Este é o terceiro pilar proposto pela ONG.

A aposentada e dona de casa Nancy Bento Ângelo é uma das pessoas que aderiram à iniciativa. Ela conta que costumava jogar na pia o óleo que usava nas refeições, até que foi repreendida pelo marido, com a desculpa de que poderia entupir o encanamento. “É segredo, mas eu disfarçava e jogava o óleo no canteiro da árvore em frente a minha casa”, revela. Depois, começou a doar o óleo para uma mulher que trabalhava de gari na região, até que ela não apareceu mais. “Foi então que eu vi o trabalho da ONG na televisão.” Desde então, Nancy guarda o óleo de fritura em garrafas de refrigerante para o projeto da Triângulo. “E até tenho a mania de coar o óleo antes de doar”, diz.

'Boom'

Outro programa semelhante é o da ONG Trevo, na capital paulista. Em parceria com condomínios e lanchonetes, a organização deixa bombonas de 30 litros em cerca de 300 condomínios da Grande São Paulo e 50 na Baixada Santista, no litoral. Quando cheias, a própria ONG recolhe o óleo reservado. Como "incentivo", são pagos R$ 0,20 por litro de óleo de cozinha recolhido ao porteiro ou zelador do prédio, o responsável por requisitar o recolhimento.

Roberto Costacoi, presidente da Trevo, diz que com o que é coletado, 90% é para produzir sabão em barra e massa para colar vidro. O restante é vendido para indústria de produtos de limpeza.  
 
(Agência Estado,
28/10/2007)


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