Sementes de mandioca, milho, abóbora e melancia adaptadas a conviver com o Cerrado sem uso de agrotóxico. Esse é o produto do trabalho de oito famílias do Assentamento Cunha, a pouco mais de uma hora do centro urbano de Cidade Ocidental, local em que o repórter Amaury Ribeiro Jr., do jornal Correio Braziliense foi baleado mês passado. O município é um dos oito do Entorno do Distrito Federal em que a Força Nacional de Segurança atua há exatamente uma semana.
As famílias desenvolveram 20 tipos de semente de mandioca orgânica, como parte do Projeto de Manejo da Agrobiodiversidade para os Biomas Cerrado e Caatinga, coordenado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A regra é: para cada finalidade, uma variedade de semente. “Mandioca para comercialização e para mesa é um tipo, para farinha é outra. O mesmo com o milho. Para pamonha, para semente, para galinha”, explica o coordenador local do projeto, Ivo Balfknechd.
O assentamento possui 170 hectares. Mas quase metade da área – 90 hectares – são de reserva natural para preservação da nascente do Rio Cunha. Desde que o projeto teve início, ano passado, já foram produzidas cerca de 150 tonelada de sementes de milho.
O projeto conta com apoio financeiro de uma organização não-governamental italiana, que permitiu a construção de uma cozinha comunitária, escritório, alojamento para abrigar trabalhadores de outros assentamentos que vêm receber treinamento e agora as casas de alvenaria das oito famílias serão reformadas.
Cada uma das oito famílias possui um pedaço de terra individual para plantar o que desejar. A área de pesquisa é coletiva. A renda de cada família é por participação. Ganha-se por dia de trabalho. “Todo mundo trabalha junto mas, por enquanto, não há renda”, diz.
A produção excedente de semente é distribuída em assentamentos da Região Centro-Oeste ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e ao Movimento de Pequenos Agriculturores (MPA).
(Por Alessandra Bastos, Agência Brasil, 26/10/2007)