O governo brasileiro está atuando com lentidão na implementação do Plano Nacional de Mudanças Climáticas e deveria dividi-lo, para iniciar em seis meses as ações mais urgentes. A opinião é do secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa, também pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Pinguelli comentou na sexta-feira (26/10) a previsão de que o plano será concluído em um prazo de dois anos. O conjunto de medidas está sendo elaborado a partir de diretrizes apontadas pelo fórum, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. O fórum é composto por 12 ministros, do diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), de especialistas e representantes da sociedade civil, e presidido pelo presidente da República.
"Eu acho que está muito devagar”, disse, durante evento sobre o quarto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC, na sigla em inglês). “Claro que ainda não seria possível ter concretizado alguma coisa, mas está se falando em levar dois anos para um plano acabado. É muito tempo. Esse plano poderia ser dividido em etapas: uma parte de ações de imediatas e outra parte mais elaborada. O governo deveria dar prioridade imediata à implantação do plano, porque ele não dá efeitos imediatos e por isso é urgente começar logo."
Para Pinguelli, no prazo de seis meses o governo deveria implementar metas internas de redução do desmatamento, ações de conservação de energia no país e formas de diminuição da emissão de carbono pelas indústrias e na área dos transportes, entre outras medidas. Na sua avaliação, a necessidade número 1 é a redução do desmatamento, principal responsável pelas emissões de gases de efeito estufa no Brasil.
Entre as medidas a serem adotadas de imediato para conservação de energia no país, o pesquisador citou a revigoração do Programa de Conservação de Energia Elétrica (Procel), o estímulo à utilização da energia solar para aquecimento de água nas residências e ações específicas como, por exemplo, o financiamento para que as pessoas substituíam as lâmpadas incandescentes por aquelas com menor consumo de energia.
Procurado pela Agência Brasil, o Ministério do Meio Ambiente informou que a secretária de Mudanças Climáticas, Thelma Krug, está fora do país e poderá comentar o assunto na semana que vem.
"As pessoas não compram essas lâmpadas porque elas são caras. Poderíamos ter uma situação em que as pessoas teriam acesso a um financiamento para a melhorar a iluminação da sua casa e pagá-lo mensalmente na conta de luz".
Para Pinguelli, outro foco que precisa ser atacado com urgência é o uso do automóvel. Segundo ele, menos de 10% cento da população brasileira tem acesso a veículos particulares, e o uso de álcool e gasolina para movimentá-los consome três vezes mais energia do que a empregada com o óleo diesel que abastece o transporte coletivo.
Ele avaliou, no entanto, que o incentivo ao transporte coletivo exige também medidas para melhorar a qualidade do serviço público prestado à população e expandi-lo no país, incluindo alternativas – por exemplo, retomar o uso dos bondes.
Em relação às indústrias, Pinguelli defendeu estímulo à eficiência energética para redução da emissão de gás carbônico por unidade produzida: "A fábrica vai aumentar a produção, mas a emissão para produzir cada unidade pode diminuir".
O evento internacional, realizado pela Secretaria de Estado e Meio Ambiente do Rio de Janeiro e pela Companhia Vale do Rio Doce, foi o primeiro encontro do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC, na sigla em inglês) na América Latina. Reuniu cerca de 250 ambientalistas para debater as recentes conclusões sobre o aquecimento global e seus impactos.
(Por Adriana Brendler e Alessandra Bastos, Agência Brasil, 27/10/2007)