O secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa, defende que o Brasil adote metas internas de redução da emissão de gases do efeito estufa sem, contudo, assumir compromisso internacional. Ele lembra que grande parte da população tem hoje pouco acesso a bens de consumo.
Pinguelli se manifestou contra a possibilidade de o país aceitar metas de redução no âmbito na Convenção Internacional de Mudanças Climáticas, que reúne 180 países, em um sistema pós-Protocolo de Kyoto que está em debate para vigorar a partir de 2012. Ele participou na sexta-feira (26/10) de evento sobre o quarto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC, na sigla em inglês).
"Isso [adoção de metas] é muito difícil, porque a maioria da nossa população tem um padrão de consumo muito baixo. Doze milhões de brasileiros no início do governo Lula não tinham energia elétrica. Pessoas da classe média emitem três vezes mais [esses gases] que alguém que mora na Rocinha [favela do Rio], e se pegarmos um camponês no interior do Piauí a diferença é mesma. Então esse país é muito injusto. Nós temos que aumentar o consumo energético para incluir essas pessoas, mas isso não isenta o país de estabelecer metas internas."
Os gases considerados causadores do aquecimento global, como o dióxido de carbono (CO2) e o metano, são liberados na atmosfera a partir de diversas atividades, como a fabricação de produtos, a agricultura e a pecuária.
Para Pinguelli, as metas internas brasileiras devem ser perseguidas respeitando as desigualdades, para que o processo seja socialmente justo. Em entrevista à Agência Brasil, ele propôs a adoção de medidas para reduzir o desperdício observado na classe média, como, por exemplo, uma alta tributação sobre veículos de luxo com grande emissão de gases. Por outro lado, defendeu a manutenção do crescimento da economia do país baseada no aumento do acesso a bens de consumo pelas classes de renda mais baixa da população.
"Nós não podemos abrir mão do desenvolvimento, por que grande parte da população brasileira está numa situação precária de vida, consumindo inclusive pouca energia”, ponderou. “Ao mesmo tempo, temos que estimular soluções que permitam aqueles que consomem mais, como a classe média, a diminuírem seu consumo, e também melhorar os padrões de uso dessa energia. O Brasil tem que fazer as duas coisas ao mesmo tempo, mas não pode negar o direito de pessoas mais pobres ingressarem na posse de automóveis, de equipamentos. Não podemos impedir que o brasileiro pobre melhore de vida. Esse é o dilema: o ambientalismo tem que ser social, não pode ser puro."
No evento na capital fluminense, Luiz Pinguelli Rosa participou de um debate sobre políticas públicas e oportunidades de mitigação (redução) da emissão de gases de efeito estufa. A mudança do padrão de produção e de consumo da sociedade foi uma das alternativas apontadas para o combate ao aquecimento do planeta.
(Por Adriana Brendler, Agência Brasil, 27/10/2007)