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2007-10-29
A pobreza em áreas urbanas que crescem sem planejamento, a perda de biodiversidade, a degradação marinha e a contaminação da água e do ar são alguns males que continuam afetando a América Latina e o Caribe, segundo o Informe GEO 4. “Na América do Sul há muito trabalho a ser feito. Temos problemas de contaminação em cidades, disponibilidade de recursos hídricos, espécies ameaçadas, superexploraçao de recursos marinhos e aumento das doenças (especialmente câncer de pele) provocadas pelo desaparecimento da camada de ozônio, que afeta muito o extremo sul” do continente, disse à IPS o engenheiro químico chileno Héctor Jorquera.

Jorquera é um dos autores do capítulo 2, dedicado à atmosfera, do quarto Informe Perspectivas do Meio Ambiente Mundial (GEO 4), divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Elabrado por 390 especialistas e revisado por outros mil em todo o mundo, o GEO 4 descreve as mudanças produzidas desde 1987, avalia o estado atual da atmosfera, a terra, a água e a diversidade biológica e identifica prioridades de ação

Um problema transversal na América Latina e no Caribe, também presente na sub-região sul-americana, é a pobreza em que se encontra a população majoritariamente urbana, ressaltou o acadêmico da Universidade Católica do Chile, que participou da apresentação do informe realizada ontem em Santiago. A América Latina e o Caribe são a região mais urbanizada do mundo em desenvolvimento. Entre 1987 e 2005 a população urbana passou de 69% para 77% do total de habitantes. Este número chega a 87% no caso do Cone Sul. Quase 40% das famílias urbanas estão abaixo da linha da pobreza, ou seja, vivem com menos de US$ 2 por dia.

A condição de pobreza, que implica pior acesso à saúde, e a serviços sanitários, como água potável, deixa a população vulnerável a todo tipo de eventos como inundações, ondas de calor, secas, aumento da contaminação atmosférica e transmissão de doenças infecciosas presentes nos esgotos, disse Jorquera. O informe, cujo lema é “Meio ambiente para o Desenvolvimento”, afirma que são coletados 81% dos resíduos sólidos gerados nos municípios, mas apenas 23% deles recebem tratamento adequado. Não é melhor a situação dos esgotos: apenas 14% são tratados.

A degradação do solo afeta 15% de toda a região, 26% na Mesoamérica e 14% na América do Sul. A América Latina abriga a maior diversidade de espécies do mundo e possui várias das maiores bacias hídricas. Seis países – Brasil, Colômbia, Equador, México, Peru e Venezuela – são considerados megadiversos. As ameaças a diversidade são perda de habitat, degradação da terra, mudança de uso desta, desmatamento e contaminação do mar, afirma o documento. Cerca de 66% da perda de cobertura florestal mundial entre 2000 e 2005 ocorreu nesta região.

“A situação não melhorou muito em relação ao que foi diagnosticado há vários anos. Os problemas persistem e não há uma resposta mais firme por parte das diferentes sociedades e governos no sentido de enfrentar a raiz dos problemas”, disse Jorquera. “Outro aspecto que precisa ser muito reforçado na região é a disponibilidade de informação mais detalhada sobre o que está ocorrendo, porque em muitos lugares não sabemos o que acontece simplesmente por não dispormos de dados”, acrescentou.

De todo modo, o informe identifica alguns progressos, como a crescente extensão de zonas protegidas, que cobrem 10,5% de todo o território da América Latina e do Caribe, com maior proporção na América do Sul (10,6%). Jorquera também destaca que melhorou a qualidade de alguns combustíveis e sistemas de transporte e que existe maior conscientização quanto à agenda ambiental na opinião pública. “Os problemas continuam sendo recorrentes na América Latina: erosão do solo (o câncer de nossa terra), desmatamento e contaminação da água e do ar”, complementou Nicolo Gligo, acadêmico da Universidade do Chile e responsável pela Informe sobre o Estado do Meio Ambiente no Chile.

“Qualifico os progressos em função dos números, e não há nenhum indicando que melhoramos (nessas áreas), salvo a redução dos contaminantes que afetam a camada de ozônio”, acrescentou Gligo. Outro aspecto abordado no informe é a vulnerabilidade regional diante da mudança climática. Segundo a exposição de Jorquera, nos últimos anos foi constatado aumento de precipitações no sudeste do Brasil, no Paraguai, Uruguai e nos pampas argentinos, bem como aumento de inundações na Bolívia e menos chuvas no sul do Chile, sudoeste da Argentina, sul do Peru e oeste da América Central.

Também há uma importante redução da superfície das geleiras andinas e da Patagônia chilena e argentina. A dimensão da geleira Antisan do Equador diminuiu oito vezes mais rápido nos anos 90 do que em décadas anteriores, e na Bolívia a geleira Chacaltava perdeu mais da metade de sua área desde 1990, diz o informe. As previsões, segundo Jorquera, indicam mais redução de geleiras e reservas de água e degradação de solos e desertificação no centro do Chile e na Argentina. O aumento do nível domar ameaça a bacia do rio da Prata e se espera aumento nos casos de câncer de pele no extremo sul do continente.

Também se prevê menor disponibilidade de água e perda entre 20% e 45% de espécies de árvores no Brasil até o fim deste século. A falta de acompanhamento, capital humano e instituições dedicadas à mudança climática dificulta a capacidade de minimização e adaptação a este fenômeno, disse o especialista chileno. Qual é a mensagem do informe aos governos da região? “Que coloquem a agenda ambiental acima de suas prioridades e que se coordenem para poderem negociar com os países e grupos de interesses mais poderosos que vão se opor a maiores melhorias da qualidade ambiental”, disse Jorquera.

Isso passa, “necessariamente, pela exigência de que contaminar tem preço e que o responsável assuma seus custos e reverta a situação. Para issoao, é preciso fortaleza institucional e apoio da sociedade”, concluiu Jorquera. O informe também exorta a resgatar o conhecimento tradicional de mais de 400 povos indígenas que habitam a região e se destacam pelo manejo sustentável de seus recursos naturais.
(Por Daniela Estrada, IPS, 26/10/2007)


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