A falta de ações drásticas para deter a mudança climática e a acelerada perda de biodiversidade coloca em grave risco o futuro da humanidade, alertou o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. O quarto Informe Perspectivas do Meio Ambiente Mundial (GEO 4), divulgado pelo Pnuma, apresenta em suas 535 paginas uma completa análise dos esforços internacionais de proteção e preservação ecológica nos últimos 20 anos.
O GEO 4 foi apresentado faltando pouco mais de um mês para uma conferência internacional-chave que acontecerá em Bali, na Indonsia, quando serão debatidas medidas a serem tomadas depois que expirar, em 2012, o Protocolo de Kyoto, único instrumento mundial para conter o aquecimento global. Desde que a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento divulgou seu próprio estudo há duas décadas, a comunidade internacional não conseguiu responder aos desafios ambientais causados pelo homem, diz o informe do Pnuma, preparado por quase 400 cientistas.
O GEO 4 indica que o crescimento populacional, os padrões de consumo não sustentáveis e a expansão urbana afetam os esforços para proteger o planeta de novos danos ambientais. “A resposta da comunidade internacional à Comissão Brundtland (há 20 anos) em alguns casos foi valente, mas não conseguiu responder à magnitude dos desafios”, disse o diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner. Segundo esta agência da ONU, há muitos problemas que permanecem “sem solução e não tratados”, enquanto surgem outros novos, desde o aumento das “zonas mortas” de oxigênio nos oceanos até a propagação de novas e antigas enfermidades.
O tratado diz que a ameaça da mudança climática é “real” e exorta a realizar drásticas reduções nas emissões dos gases causadores do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento do planeta, segundo a maioria dos cientistas. O estudo prevê que, até o final deste século, as temperaturas mundiais sofrerão aumento médio entre 1,8 e quatro graus. Alguns cientistas afirmam que uma alta de dois graus é a “fronteira” além da qual haveria “grandes e irreversíveis” danos na Terra. Alguns desses gases podem persistir na atmosfera por mais de 50 mil anos, segundo o GEO 4, que critica severamente os países do Norte industrializado pela degradação ambiental.
“Estamos vivendo muito mais além de nossos meios”, disse um pesquisador do Pnuma. Quanto à diversidade biológica, o informe diz que as espécies se extinguem cem vezes mais rápido do que o ritmo registrado nos fósseis. Sessenta por cento dos ecossistemas avaliados o GEO 4 se degradaram. A perda de diversidade genética pode ameaçar a segurança alimentar, segundo os pesquisadores do Pnuma, os quais calcularam que há 14 espécies animais que constituem 90% de todo o gado e cerca de 30 tipos de colheitas que fornecem 90% das calorias da população mundial.
O informe assinala que a degradação da terra é uma ameaça tão grave quanto a mudança climática e a perda da biodiversidade, porque afeta um terço da humanidade através da contaminação, erosão dos solos, do esgotamento dos nutrientes, da escassez de água e a salinização. Em nível mundial, a contaminação da água continua sendo a maior causa de doenças e morte entre as pessoas, segundo o estudo, onde se alerta que uma redução ainda mais acentuada na qualidade dos recursos hídricos pode levar à propagação de doenças como malária e diarréia em muitas partes do mundo.
Conforme demonstram muitos outros estudos, o GEO 4 conclui que todos esses problemas ambientais afetarão especialmente a população mais pobre, que vive no Sul em desenvolvimento. “Há mudanças sem precedentes, que ocorrem no contexto da mudança climática da degradação da terra e da biodiversidade”, disse à IPS o cientista Munyarabzi Chenje, um dos autores do informe. Chenje afirmou que o tema mais importante no GEO 4 é “o desenvolvimento e o bem-estar da humanidade”, e acrescentou que milhões de pessoas no mundo “não estão bem devido à pobreza e à desigualdade” e, portanto, são os mais vulneráveis aos impactos da mudança climática e à perda da biodiversidade.
O cientista afirmou que o Norte industrializado está em melhor posição para enfrentar os problemas climáticos, já que possuem os recursos necessários. O informe critica as nações ricas por não mostrarem suficiente vontade política para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, exigir padrões sustentáveis de consumo dos recursos naturais e por não reduzirem drasticamente a emissão de gases causadores do efeito estufa.
“É a verdadeira geopolítica de nossa era”, disse o diretor do Instituto da Terra, da Universidade de Columbia, ao se referir à fraca resposta dos países industrializados à ameaça do aquecimento do planeta, especialmente por parte dos Estados Unidos, responsáveis por 25% das emissões dos gases que provocam o efeito estufa. “Já sabíamos do problema há mais de 30 anos. Esperamos muito tempo para fazer alguma coisa, e agora o enfoque é principalmente militar. Washington gasta US$ 700 bilhões em ações militares. Não tem sentido”, afirmou.
(Por Haider Rizvi,
IPS, 26/10/2007)