A alta dos preços do petróleo está tornando a captação e o reaproveitamento do carbono mais atraentes para as companhias de petróleo, procedimentos pouco utilizados e onerosos, que viabilizam a redução dos gases estufa, segundo especialistas reunidos em Montreal. "Constato um enorme interesse pela captação de carbono. De repente, as pessoas que não se interessavam quando o barril de petróleo era negociado a 10 ou 20 dólares, agora estão", disse Lynn Orr, diretor do "Projeto mudança climática e energia", da universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
Orr participa da conferência "Climat 2050", em Montreal, que busca soluções tecnológicas e políticas para reduzir as emissões de gas do efeito estufa (GES), principal causa do aquecimento climático. No total, 400 participantes - pesquisadores, empresas e dirigentes governamentais - de cerca de 20 países, avaliam os desenvolvimentos mais recentes sobre a estrutura ecológica, as energias renováveis, os biocombustíveis e a captação de carbono.
Um dos caminhos é captar o carbono emitido pelas centrais térmicas tradicionais, para liberar no fundo dos oceanos ou debaixo da terra, nas jazidas de petróleo ou carbono, para impedir o gás (C02) de se espalhar na atmosfera. "O CO2 age como um solvente que torna as reservas de petróleo mais móveis. Normalmente, injetamos água, o que nos permite extrair 30% dos recursos. Mas injetando gás carbônico esperamos um percentual de 40% a 50%. É significativo", explicou à AFP Mark Demchuk, chefe da equipe da instalação do gigante canadense do petróleo EnCana em Weyburn.
Situado em Saskatchewan, província das Pradarias canadenses conhecidas por sua produção de cereais, de urânio e também de petróleo, Weyburn é considerado o maior projeto de reaproveitamento de carbono do planeta e foi objeto de pesquisa da Agência Internacional de Energia. A EnCana recebe CO2 por um tubo de uma usina de processamento de gás situada a 300 km em Dakota do Norte, nos EUA, e o injeta na terra para aumentar sua produção de petróleo.
O gigante British Petroleum (BP) está trabalhando num ambicioso projeto de captação de carbono em sua refinaria de Carson, na Califórnia. O objetivo é de separar o coque em hidrogênio e em gás carbônico. O hidrogênio servirá para alimentar uma central elétrica, enquanto que o CO2 será captado, transportado e injetado em reservas de petróleo profundas.
"A captação não é rentável num primeiro momento", disse Brian Williams, diretor do programa de reinjeção de petróleo na terra do CO2 para a poderosa companhia petróleo. Segundo ele, captar, transportar e injetar uma tonelada de dióxico de carbono custa quase US$ 100. "A tecnologia não é a única coisa que você pode fazer, mas a que preço. E sabemos que a conta vai baixar", disse à AFP. A BP aposta também num outro projeto na Argélia, assim como a Statoil na Noruega.
Vários especialistas defendem uma bolsa mundial do carbono e iniciativas públicas, para rentabilizar as reduções de dióxido de carbono e aumentar os investimentos para a pesquisa de tecnologia ainda mais eficaz. "A grande questão é de saber se a captação e a reinjeção do carbono podem ser feitas a uma escala que fará uma grande diferença na concentração de CO2 na atmosfera. Eu acredito que tecnicamente somos capazes, mas a uma escala modesta", afirmou o professor Orr.
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Yahoo Brasil, 27/10/2007)