A previsão de cenários específicos sobre os impactos das mudanças climáticas na América Latina ainda depende da elaboração de modelos que levem em conta as realidades socioeconômicas do continente. "Precisamos ser vistos", afirmou o pesquisador peruano Eduardo Calvo, um dos membros do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês), durante encontro internacional de pesquisadores do painel e ambientalistas no Rio de Janeiro.
De acordo com o pesquisador, os cenários atuais de análise dos impactos dos riscos do efeito estufa – produzidos principalmente a partir da Europa e dos Estados Unidos – não consideram diferenças internas do continente latino-americano, como a grande desigualdade social e a distribuição das populações, por exemplo.
Calvo aposta na parceria entre nações em desenvolvimento, os chamados acordos Sul-Sul, como forma de viabilizar mudanças estruturais e diminuir a dependência de modelos "importados" para estudar os impactos das variações climáticas no continente. "A solução não vai vir dos países do Norte, que sempre vão nos colocar como 'o resto do mundo'; precisamos da ajuda do Norte, mas nosso futuro deveria estar em nossas mãos", defendeu.
"Precisamos juntar esforços nacionais, usar novos modelos e avaliar possibilidades conjuntas. O nível de representação da América Latina deixa a desejar. É necessário maior esforço de pesquisa e desenvolvimento", acrescentou o também membro do IPCC Emilio La Rovere, professor da Coppe/UFRJ - Coordenação de Pós Graduação da Universidade do Rio de Janeiro.
Na avaliação de La Rovere, o Brasil tem uma posição privilegiada em relação a outros países latino-americanos por já executar, de maneira significativa, algumas ações que contribuem para mitigação de gases do efeito estufa. O pesquisador citou os investimentos brasileiros em biocombustíveis e o Procel - Prêmio Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia, entre outros exemplos, como iniciativas relevantes em relação às mudanças do clima.
La Rovere calcula que, graças a essas medidas, o Brasil conseguirá reduzir em 14% o nível de emissões até 2020. Segundo ele, esse percentual pode chegar a 29% com a consolidação dos programas e a adoção de soluções complementares, como o incentivo à produção e consumo de carros bicombustíveis, os chamados modelos flex.
"Nós podemos demonstrar que não estamos parados, temos esforços de mitigação mesmo sem obrigações no âmbito da convenção", destacou. O evento na capital fluminense é organizado pelo governo do Rio e pela Companhia Vale do Rio Doce.
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Agência Brasil, 27/10/2007)