Duas décadas depois de um documento histórico alertar para a situação do planeta e pedir providências urgentes, o mundo ainda passa por maus bocados, disse na quinta-feira o Programa Ambiental da ONU (Unep). Embora o quarto Panorama Ambiental Global (GEO-4) afirme que medidas foram tomadas com sucesso em determinadas regiões, a situação ainda é marcada principalmente pela negligência.
"As tendências globais de clima, do ozônio, da degradação dos ecossistemas, a pesca, os oceanos, o fornecimento de água ... ainda estão em declínio", disse o chefe do Unep, Achim Steiner, no filme que acompanhou a divulgação do levantamento. O relatório, de 540 páginas, pede que as emissões de gases-estufa sejam reduzidas em entre 60 e 80 por cento, e observa que 60 por cento dos ecossistemas do mundo já sofreram degradação e continuam sendo usados de forma insustentável.
"Estamos diante de uma situação que se agrava cada vez mais. Em parte porque demoramos demais para reverter a degradação que documentamos, e em segundo lugar porque as demandas em nosso planeta continuaram crescendo ao longo desse período", disse Steiner. "Essa equação não se sustenta por muito mais tempo. Na verdade, em certas partes do mundo, já não se sustenta mais."
Sobre o Brasil, o documento ressalta iniciativas de preservação na selva amazônica, mas adverte que a adoção de biocombustíveis deve ser planejada com cuidado. O relatório é uma lista interminável da degradação na Terra. Há duas décadas, o ex-premiê norueguês Gro Harlem Brundtland advertiu que a sobrevivência da humanidade estava em jogo. Agora, o GEO-4 afirma que 3 milhões de pessoas morrem todo ano de doenças facilmente evitáveis que se propagam pela água - a maioria crianças com menos de 5 anos.
As espécies estão se extinguindo cem vezes mais rápido que os registros históricos. Estão ameaçados de sumir do planeta 12 por cento dos pássaros, 23 por cento dos mamíferos e mais de 30 por cento dos anfíbios. Segundo a vice-presidente do Unep, Marion Cheatle, o mundo passa pela sexta extinção em massa de sua história. O relatório foi elaborado por 388 cientistas e revisto por outros mil. Ele elogia os acordos de preservação da camada de ozônio, sobre a desertificação e a biodiversidade e as medidas de algumas cidades contra a poluição atmosférica.
(Por Jeremy Lovell,
Reuters, 25/10/2007)