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derretimento das geleiras
2007-10-26
Com uma população de 16 milhões de habitante, o Chile não produz muito dos gases do efeito estufa que causam o aquecimento global, porém está pagando o preço. Pesquisadores chilenos descobriram que mais da metade das 120 geleiras que monitoram estão encolhendo, com muitas desaparecendo a uma taxa recorde em apenas uma década. Isto inclui geleiras próximas a capital, Santiago, fonte de água para os seis milhões de cidadãos.

No centro do Chile, onde vive a maioria da população, a altitude no qual a neve começa a cair aumentou de 400 pés no inverno e mais de 650 pés no verão entre 1975 e 2001. As chuvas, por sua vez, caem em altitudes cada vez mais elevadas, causando a diminuição do manto de gelo e desencadeando a erosão em muitas montanhas.

As temperaturas na região no último século aumentaram de meio a 1,26 graus, o suficiente para derreter as geleiras. A temperatura média na região no último século provocou o aumento do nível das águas a curto prazo, porém provavelmente resultará a escassez a longo prazo, quando as geleiras sumirem, explica Gino Casassa, um pesquisador colaborador do Centro de Estudos Científicos e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC), que recebeu recentemente o Prêmio Nobel da Paz.

“Sem dúvidas, o aquecimento global é a causa. A única pergunta agora é qual serão os efeitos para o Chile nas próximas décadas”, afirma Casassa. Em maio, um lago no sudeste chileno desapareceu praticamente da noite para o dia depois que a geleira Tempano, que atuava como represa, derreteu e se desestabilizou.

Para piorar, as chuvas estão diminuindo no sul da Patagônia, onde estão muitas das represas hidroelétricas do país. “É como se estivéssemos matando o ganso que protege o ovo de ouro”, diz o alpinista veterano, Jorge Quinteros, 75, que pesquisa os níveis de água e neve para o governo chileno. “Os rios estão crescendo como nunca e continuarão por alguns anos, mas quando as geleiras sumirem, o que acontecerá?”, ressalta.

Os prejuízos não se limitam ao Chile. A vizinha Argentina encara secas perto dos Andes por causa da queda no nível de chuvas. O encolhimento das geleiras na Bolívia ameaça o suprimento de água de algumas cidades.

“O que acontece na Argentina é muito similar ao que ocorre no Chile”, disse o diretor do Centro de Investigações do Mar e Atmosfera da Argentina, Mario Nunez. “Nós estamos tentando nos preparar para um futuro incerto”.

As mudanças são ambas: grandes e pequenas. Mario Martinez diz que o clima em um alojamento na base do vulcão San Jose no centro do Chile é o mesmo – frio – desde que ele chegou, há 30 anos. Na verdade, o pior inverno que ele lembra foi um recente, em 2002, quando a neve praticamente enterrou sua casa de dois pavimentos. No entanto, o vulcão não está mais com o topo coberto por gelo, diz, “enquanto que o pé está coberto”.

José Manquez afirma que o declínio da neve causou o corte da estação de esqui de três para um mês no resort Lagunillas, o qual ele ajuda a administrar. Novas máquinas de fazer gelo, especialmente em baixas altitudes, são sua única esperança para atender os clientes.

A indústria de minérios do país, que produz cerca de dois terços da exportação chilena, está pesquisando novas maneiras de fazer negócios, disse a ministra de minas, Karen Poliachik. Os mineiros usam vasta quantidade de água para quebrar, lavar e extrair os minerais e a disputa por água no norte seco do país, onde estão muitos mineiros, já gerou violência. “A disponibilidade de água é definitivamente uma preocupação”, disse.

Para Quinteros, que passou décadas explorando o território selvagem do Chile, uma era já está chegando ao fim. As montanhas que ele conhece e ama mudaram e, segundo ele, o futuro não parece promissor.

Ele relembra quando os pés das montanhas acima de Santiago estavam cobertos de neve o ano todo ao invés de ser rara a maior parte do tempo, como é hoje. Ele também lembra de visitar geleiras legendárias no sul do Chile, como a San Rafael e a O´Higgins, antes que elas estivessem em retração. “Eu vejo as mudanças todo o tempo que eu estou nas montanhas”, disse Quinteros. “O impacto de tudo isso tem sido impossível de não se ver”.

(CarbonoBrasil, Ambientebrasil, 26/10/2007)



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