O programa nuclear brasileiro estará concluído até 2014 caso se confirmem os investimentos previstos pelo governo de R$ 1 bilhão ao longo dos próximos anos. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (25/10) pelo comandante da Marinha, almirante-de-esquadra Julio Soares de Moura Neto, durante audiência pública conjunta das Comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) e de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT).
Depois de passar sete anos em "estado vegetativo", como definiu o almirante, o programa será retomado em 2008, quando receberá R$ 130 milhões. A retomada do programa permitirá que o país domine todo o ciclo de combustível nuclear e conclua o Projeto do Laboratório de Geração Núcleo-Elétrica (Labgene), que conterá um reator de 11 MW de potência, suficiente para iluminar uma cidade de 20 mil habitantes.
- O programa nuclear é uma das grandes vitórias tecnológicas do país - definiu Moura Neto, ao ressaltar a dualidade do programa, destinado tanto à produção de energia elétrica quanto à propulsão de submarinos nucleares.
De 1979 até hoje, informou o almirante, foram investidos o equivalente a US$ 1,1 bilhão. Já existe domínio tecnológico sobre o ciclo do combustível nuclear, mas algumas etapas desse ciclo ainda são realizadas fora do país, disse ainda. O yellow cake, produto da primeira etapa de beneficiamento do urânio, atualmente é enviado ao Canadá para ser convertido em gás, que é remetido à Europa para enriquecimento. Somente então volta ao Brasil para ser convertido em pastilhas que alimentarão as usinas nucleares.
A usina brasileira de transformação do yellow cake em gás, de acordo com o comandante, ficará pronta em 2010. E a Marinha vem fornecendo pouco a pouco à Indústria Nuclear Brasileira (INB), em Resende (RJ), as centrífugas necessárias à produção de combustível nuclear para as usinas Angra 1 e 2 - além de Angra 3, ainda em estudos. Ele recordou que apenas sete países, além do Brasil, dominam todo o ciclo de produção de energia nuclear.
O almirante informou ainda que o primeiro submarino nuclear brasileiro poderá estar pronto em 2020. A grande vantagem desse submarino em relação aos convencionais, lembrou, é que o nuclear pode permanecer períodos mais longos embaixo d'água. Com isso, disse, o submarino nuclear pode ser considerado uma "arma de grande efeito de dissuasão", capaz de ajudar a patrulhar a extensa costa brasileira.
O programa nuclear da Marinha foi definido pelo senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), que presidiu a reunião, como um "orgulho nacional". O parlamentar recordou que muitos cientistas que participam do programa poderiam ganhar muito mais dinheiro no exterior, mas optaram por permanecer no Brasil "por amor ao país".
Ao elogiar o progresso obtido pela Marinha, o senador Augusto Botelho (PT-RR) afirmou que nenhum país "transfere ou vende" tecnologia nuclear. O senador Romeu Tuma (PTB-SP), por sua vez, classificou o programa como "exemplo claro" de uso da energia nuclear para fins pacíficos, uma vez que o próprio submarino nuclear se destinará à defesa do país. A resistência dos seres humanos a longas temporadas no fundo do mar, permitidas pelos submarinos nucleares, foi a maior preocupação apresentada pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP). As missões de vigilância, previu o comandante, deverão durar de 30 a 60 dias, conforme prática internacional.
Em resposta a uma pergunta do senador Paulo Duque (PMDB-RJ), o almirante informou que o Exército e a Aeronáutica também desenvolvem seus próprios programas nucleares, mas ainda em estágio de pesquisas. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse ser um defensor da "opção atômica" da Marinha, mas ressaltou a necessidade de se ampliar a defesa dos rios brasileiros.
O senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) quis saber a opinião do comandante da Marinha sobre as divergências entre os Estados Unidos e o Irã a respeito do programa nuclear iraniano. Para Moura Neto, as tensões poderão diminuir no momento em que o governo do Irã aceitar a supervisão de seu programa pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
(Por Marcos Magalhães, Agência Senado, 25/10/2007)