(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
mortandade de abelhas
2007-10-25
Questionado no programa Em Pauta*, da TV Câmara de Porto Alegre, sobre o impacto dos novos e grandes plantios de eucaliptos na Metade Sul, o agrônomo Aroni Sattler, professor da Faculdade de Agronomia e Veterinária da UFRGS e presidente da Federação Apícola do RS, disse que os apicultores terão provavelmente mais pasto para suas abelhas, mas que nem toda flor é boa para a apicultura.

Segundo Sattler, os eucaliptos são ricos em néctar (matéria-prima do mel) mas seu pólen (alimento das abelhas) não fornece uma proteína essencial para as abelhas: a isoleucina. Em conseqüência, tem ocorrido algo estranho com apicultores que transferem suas colméias para densos eucaliptais na época da florada destas árvores: no final da temporada as caixas estão cheias de mel mas, por falta de isoleucina, a população de abelhas aparece bastante reduzida.

Para evitar que as abelhas fiquem dependentes de uma única variedade vegetal, Sattler recomenda que os apicultores não instalem suas colméias em espaços dominados por monoculturas. Se o apicultor optar por deixar suas colméias perto de uma grande plantação, é melhor que o faça na periferia da lavoura, de forma que as abelhas tenham alternativa de escolha. E que fique atento às pulverizações venenosas. Para evitar o morticínio por agrotóxicos, o melhor é reter as abelhas nas caixas por dois dias. Embora sejam sábias, as abelhas ainda não aprenderam a se defender das contaminações causadas pelo homem.

Parte essencial do manejo dos apiários, a seleção de espaços com boa variedade de pastos tem sido uma das tarefas mais complicadas para os apicultores modernos. Com a expansão dos aglomerados urbanos, das estradas, do tráfego e das grandes lavouras conduzidas à base de venenos agrícolas, a localização de bons pontos para as colméias tornou-se uma dor-de-cabeça. Em muitos casos, é melhor o apicultor optar por uma base que lhe dê segurança e tranqüilidade, mesmo que para isso tenha de oferecer um complemento alimentar para seu rebanho.

Em seu longo depoimento à TV Câmara, Sattler deixou claro que ainda não foi encontrada a causa da exagerada mortandade das abelhas melíferas nos Estados Unidos e na Europa. O problema foi detectado inicialmente no estado americano da Florida em novembro de 2006. Nos EUA, nove universidades fizeram um pool para estudar o fenômeno denominado “síndrome do colapso das colméias” -- as abelhas saem para buscar néctar e não voltam, o que em muitos casos ocasiona a morte da colméia e pode levar à falência do apicultor.

O que mais preocupa os norte-americanos não é a queda na produção de mel, mas os prejuízos na polinização de frutas e legumes. Uma estimativa publicada em março pelo NY Times afirmou que chegaria a 14 bilhões de dólares a produção agrícola norte-americana dependente da polinização da Apis melifera. É uma estimativa modesta, avalia o professor Sattler. Segundo ele, 70% dos vegetais precisam dos insetos para se reproduzir. A interdependência entre vegetais e animais fez o próprio Sattler lembrar uma frase de Nostradamus, segundo o qual o desaparecimento das abelhas deve ser tomado como sinal do fim do mundo.

Sattler não tem dados sobre a extensão do fenômeno da mortandade das abelhas no território brasileiro, que abrange várias províncias apícolas, com clima e vegetação muito diferentes. Sabe-se que as universidades de Campinas e de Viçosa estão fazendo um estudo conjunto. No Rio Grande do Sul, que lidera a produção nacional de mel e tem um inverno muito rigoroso, relatos colhidos junto a apicultores avulsos indicam perdas severas -- muito acima da mortalidade natural de 10% a 15% das populações de abelhas – durante a última temporada de frio e chuva. Houve apiários que perderam 30% a 40% de seu rebanho, mas faltam informações mais abrangentes e concretas.

Em outras províncias, como o sul do Piauí, que se tornou grande produtor de mel a partir dos anos 1990, não há registro do mal. Lá o inverno é ameno.

A morte das abelhas no campo, longe da colméia, representa a maior dificuldade para os interessados em pesquisar a anomalia. Para evitar confusão, Sattler lembra que as abelhas são naturalmente vulneráveis a ataques de ácaros, protozoários, bactérias e vírus. Elas também podem morrer de fome. E são alvo de pássaros. Fora disso, concorrem para sua mortalidade diversas causas externas. Entre outras, fala-se até da radiação das torres de telefonia celular. Mas indiscutivelmente, até agora, a principal causa externa da morte das abelhas são os venenos agrícolas.

Em seu depoimento à TV Câmara, Sattler disse que os monocultivos (principalmente os preparados pelo sistema de plantio direto, que implica no uso de herbicidas dessecantes) e os agrotóxicos estão reduzindo a biodiversidade e contribuindo para exterminar as abelhas. Sobre os vegetais transgênicos (cujo pólen seria responsável pela "desorientação" das abelhas, segundo alguns pesquisadores), ele disse que ainda não há estudos ou conclusões.

* O programa vai ao ar hoje, 25/10, às 20 h no canal 16 da Net

(Por Geraldo Hasse, especial para o Ambiente JA, 25/10/2007)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -