Para um grupo de ativistas do Greenpeace trata-se do Castelo dos Pesadelos.Uma Alegoria amazônica, certamente idealizada por madeireiros, cujo único objetivo na vida, é sustentar suas famílias e a de seus funcionários. Esse é o discurso oficial de um deles, que na frente da câmara da TV Record, confessou: Trabalha na ilegalidade, sabia que era um criminoso, mas a situação geral diga-se , a legislação, os empurra para a atividade ilegal. Calcula-se que 80% da madeira retirada da Amazônia tem algum tipo de documento falso. O Ibama conta com 800 fiscais responsáveis por uma área de 5 milhões de Km2, ou seja, um fiscal para cada 6.500 quilômetros quadrados, uma área muitas vezes maior do que a cidade de São Paulo .
Os escritórios mais distantes, muitas vezes, não tem Internet, e falta combustível. Um relatório feito por um grupo interministerial divulgado no ano 2000, calculava 74 pólos madeireiros na região, com mais de 2.500 empresas, grande parte pequenas e médias. Mais de 27 milhões de metros cúbicos eram explorados,63% serrados, 18% transformados em laminados, 10% em compensados e apenas 9% beneficiados. Registre-se: 80% da madeira amazônica é consumida no centro – sul do país. Apenas 20% é exportada.
No caso do Castelo dos sonhos, região sudoeste do Pará, perto de Altamira, pólo da Transamazônica assim, como centenas de outros vilarejos que nascem do dia para noite, a questão é a de sempre: a lei. Madeireiro que trabalha ilegal não cumpre lei alguma , trabalha como garimpeiro. Explora o que pode o mais rápido possível e vai embora quando a madeira acaba. Deixa o buraco na floresta, que mais tarde vai ser queimado, invadido, virar pastagem ou lavoura de soja.
Além disso, no momento da fiscalização, da chegada de ambientalistas ou jornalistas, chama a peãozada e coloca os visitantes contra a parede. Os ativistas do Greenpeace tinham por objetivo levar uma castanheira queimada, de 13 metros, espécie protegida por lei – para uma exposição no sudeste. Foram bloqueados. Ficaram encurralados durante dois dias. O porta – voz dos madeireiros, na realidade o dono da serraria, patrão dos peões – sem nenhuma conotação, mas é uma situação normal no norte, o sujeito é garimpeiro, vira peão de fazenda, ou corta madeira no mato e vive rodando - , camisa aberta, corrente de ouro no pescoço, dá as ordens: Isso aqui é o Brasil
Não, não é o Brasil, é a terra sem lei, sem governo, sem justiça, onde um pequeno grupo comanda o resto, não somente as atividades ilegais de exploração madeireira. Na etapa seguinte serão os fazendeiros e agricultores, enfim, os donos das terras, que na sua maioria, são públicas. O biólogo Leonardo Colombo Fleck, especialista em economia da conservação, trabalhou na Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá , em Tefé, Amazonas, coloca claramente o problema:
“O Banco do Brasil financia a expansão da agricultura, sem cobrar a exigência da legislação ambiental (as reservas). Nem o desmatamento ilegal. Fornece os créditos, é uma política de incentivo, efeito direto sobre o desmatamento. A ausência marcante do estado na região é um estímulo a ilegalidade, onde impera a lei do mais forte.”
Em outra ponta, na mesma Amazônia fronteira do Maranhão com Pará, uma operação do ibama, mais Força Nacional, Polícia Rodoviária, Federal, etc, no Parque Nacional Gurupi, área de 340 mil hectares. Encontraram portos e estradas onde a madeira estava sendo saqueada. Constataram uma quantidade de madeira suficiente para carregar mil caminhões.
Na mesma semana saíram dados oficiais e não oficiais do( Imazon e do Instituto Centro Vida) anunciando o aumento do desmatamento no período de junho a setembro desse ano: 107% na Mato Grosso, 602% no mês de setembro em Rondônia. Parece óbvio que existe uma relação entre numero de focos de incêndio e aumento do desmatamento, assim como, aumento na cotação da soja e avanço da cana no Centro – Oeste. Se queima mais é para abrir novas áreas, vender mais terras.
Isso acontece em meio a grande discussão sobre aquecimento global. O pesquisador Philip Martin Fearnside, há 28 anos trabalhando com clima na Instituto nacional de Pesquisas da Amazônia, esteve em Porto Alegre, participando 2º congresso de jornalismo Ambiental, e abordou o tema . A influência da floresta no clima. A produção de água, trilhões de litros.
O oceano contribui com cerca de 10 trilhões de litros de água que entram na Amazônia empurrados do leste, pelos ventos do Atlântico. A floresta produz em torno de 6,6 trilhões de litros. Existe uma sobra de 3,4 trilhões de litros, que os pesquisadores calculam ser a quantidade de água que circula por outras regiões. Enfim, as chuvas de dezembro e janeiro que caem no sudeste e no sul são abastecidas com esta umidade amazônica. Aquela castanheira queimada deveria produzir em torno de 300 litros de vapor d’água por dia.
Não sei quando as populações das metrópoles do sudeste, centro e sul , se darão conta disso, quer dizer, a temperatura, as secas, as chuvas, dependem das condições da floresta. Sem floresta, o clima mudará, não somente na região desmatada, mas milhares de quilômetros distantes. Isso também é o Brasil. Se continuar a mesma balada da ilegalidade, com os madeireiros dando o tom na Amazônia, e as carvoarias regendo a sinfonia no Pantanal, teremos um quadro tétrico nos próximos anos.
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Por Najar Tubino*, 24/10/2007)
*Najar Tubino é jornalista, autor da palestra "Uma visão Holística e atual sobre a integração do planeta", que trata das mudanças climáticas, aquecimento global, extinção de espécies, o funcionamento dos sistemas que compõem e movimentam a vida na Terra, com data-show, ilustrada com imagens de satélite da Nasa. Pode ser agendada pelo telefone: (51) 96720363, e-mail:
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