O governo americano deve anunciar que os incêndios em San Diego, no estado da Califórnia, foram criminosos, informou a rede de TV americana CBS News. De acordo com a emissora, a polícia vai oferecer uma recompensa de US$ 50 mil para quem apontar os supostos responsáveis pelo fogo, que já provocou 6 mortes, deixou 1 milhão de desabrigados e devastou uma área do tamanho de São Paulo, causando prejuizos de US$ 10 milhões.
Na quarta-feira (24), a polícia deteve um suspeito de iniciar focos de incêndio e matou uma segundo homem após uma perseguição. O governo da Califórnia disse ainda não ter certeza de que os suspeitos estavam envolvidos nos incêndios.
Nas ruas de San Diego, as especulações acerca da origem dos focos de incêndio vão além. Segundo a advogada carioca Gabriela Magalhães, de 26 anos, que há um ano mora em Venice, na Califórnia, já se fala até em atos terrorismo.
- Apesar de estar realmente bastante quente e de ser uma área muito seca e apta a este tipo de fenômeno, nunca se viu por aqui um incêndio destas proporções. As pessoas estão assustadas e já especulam se não seria o caso de um ato criminoso ou mesmo terrorista - contou Gabriela ao GLOBO ONLINE na tarde desta quarta-feira.
"Uma coisa que certamente causa estranhamento é a distância entre os focos de incêndio", em alguns casos, separados uns dos outros por vários quilômetros. Outra coisa que levanta suspeitas é o fato de os incêndios, coincidentemente, só atingirem as áreas mais ricas, onde só tem mansões.
Para a bacharel em Direito, nenhuma hipótese pode ser descartada. "Ninguém sabe o que se passa na cabeça desses loucos [terroristas]. Para eles, qualquer alvo é alvo e esta seria a época perfeita para um ataque na California", avalia.
Segundo o jornal "Los Angeles Times", o confronto entre a polícia e o suspeito morto começou por volta das 18h de terça-feira, quando policiais da Universidade de San Bernardino localizaram um homem suspeito. Os oficiais teriam tentado detê-lo, mas ele teria entrado num carro na tentativa de fugir. Quando o veículo deixou o local, a polícia atirou. De acordo com as autoridades, ele tinha cerca de 27 anos e morava no Arizona.
Cerca de três horas depois, um homem foi visto por uma motorista em Herperia no acostamento de uma estrada. De acordo com a polícia, John Alfred Rund, de 48 anos, teria iniciado um foco no mato ao lado da rodovia. Os bombeiros da Califórnia tiveram um respiro nesta quarta-feira, após quatro dias de intenso trabalho, graças à diminuição do vento, e San Diego disse que espera deixar que algumas milhares de pessoas que deixaram suas casas comecem a retornar.
O céu de grande parte do Estado mais rico dos EUA continua coberto por uma espessa e irritante fumaça, o que obriga os moradores a ficarem em suas casas e usarem máscaras. O governador Arnold Schwarzenegger disse haver 18 incêndios na quarta-feira, ameaçando 25 mil edifícios e outras estruturas. Quase 1.500 casas já foram perdidas.
Cerca de 1 milhão teve de deixar suas casas, na maior retirada em massa da história moderna da Califórnia. Muitos aguardam autorização das autoridades para voltarem, sem saber o que aconteceu com suas casas e posses. Pelo menos seis pessoas morreram e 40 ficaram feridas ou intoxicadas, entre elas muitos bombeiros.
LA suspende alerta de ventos fortesDois grandes focos de incêndio se juntaram no Condado de San Diego, queimando mais de 80 mil hectares, quase metade da área total atingida no Estado. "Temos vários tremendos incêndios ainda ocorrendo", disse o prefeito de San Diego, Jerry Sanders.
O Condado de Los Angeles suspendeu o alerta contra ventos adotado há quatro dias por causa do vento quente que vem do deserto e provocou o primeiro incêndio na sofisticada localidade litorânea de Malibu, onde na quarta-feira a vida começava a voltar ao normal.
Mas o fogo continua dominando as montanhas a leste de Los Angeles, embora os bombeiros se digam aliviados com a redução do vento, que chegou a ter rajadas de 130 quilômetros por hora, mas caiu para 80 quilômetros por hora. Schwarzenegger disse que 8.900 bombeiros continuam na linha de combate às chamas. "Muitos deles trabalharam 36 e 48 horas sem parar", afirmou.
O presidente George W. Bush declarou situação de "desastre maior" em sete condados do sul da Califórnia, o que permite mais ajuda federal. Ele viaja na quinta-feira à região.
Autoridades locais, estaduais e federais montaram estrutura para oferecer comida, abrigo e atendimento médico aos desabrigados. Ao contrário do que ocorreu em 2005 quando o furacão Katrina devastou Nova Orleans, desta vez não há cenas de desespero entre as cerca de 14 mil pessoas que já passaram duas noites no estádio de futebol americano Qualcomm, em San Diego.
Muitos dos desabrigados na verdade se disseram agradavelmente surpresos com a reação oficial, já que há água e comida abundante, atividades para entreter as crianças e até sessões de ioga, acupuntura e massagem para desestressar os adultos. Há atenção especial até a animais, pois cavalos estão sendo acomodados num parque de exposições do condado.
Autoridades locais disseram que, mesmo depois que as chamas forem debeladas, ainda haverá enormes gastos e um grande trabalho de limpeza.
(Por Ângela Góes,
O Globo Online, 24/10/2007)