Especialistas afirmam que o mercado voluntário de carbono é um grande impulsionador do mercado de compliance (obrigatório, regido pelas normas do Protocolo de Kyoto). Durante uma conferencia sobre o tema realizada na última semana em Londres, o diretor da Merryl Lynch, Abyd Karmali, explicou como o mercado voluntário ajuda a dar forma ao de compliance. “O voluntário é o Calcanhar de Aquiles do mercado. Se o mercado voluntário não funcionar, o de compliance quebra”. Seguindo o mesmo raciocínio, Ben Richardson, diretor da Natsource, define que “o mercado voluntário está aqui para ficar, e estará por muito tempo modelando o mercado compliance”.
Um exemplo de projetos que stão se destacando nessa área foi apresentado pela vice-presidente da Blue Source, Annika Colston. Ela falou sobre o desenvolvimento da tecnologia CCS (Captura e Armazenamento de Carbono), que ainda está em fase de testes, mas já possui créditos futuros comercializados. Por esse sistema, as emissões de dióxido de carbono são capturadas nas chaminés das usinas e direcionadas para locais onde são estocadas, como em antigos depósitos (já esgotados) de petróleo e gás no subsolo.
O futuro do mercado voluntário vai depender do que ocorrer no período pós 2012, acredita a diretora de projetos sustentáveis da Caísse de Depot, Claire Boasson. “Se as regras do pós-Kyoto forem decididas logo, provavelmente os volumes do mercado voluntário serão menores”, afirma. “O mercado voluntário, no entanto, não acabará, pois o de compliance não abrangerá todos os setores da sociedade. Sempre haverá indivíduos e empresas querendo compensar suas emissões voluntariamente, avalia Shelagh Whitley, representante da divisão comercial da Camco.
FlorestasOs projetos florestais, que representam 30% do mercado voluntário de carbono, também estiveram no centro das discussões em Londres. As principais polêmicas relacionadas com projetos de florestamento e reflorestamento envolvem o a dificuldade de monitoramento das áreas; a não inclusão dos projetos no esquema de comércio de emissões da União Européia (EU ETS) e as metodologias consideradas complexas. Esses temas foram aos poucos sendo desmistificados durante o evento.
A representante da empresa brasileira CO2 Soluções Ambientais, Joana de Marsillac, por exemplo, abordou a questão do monitoramento das áreas florestais apresentando duas soluções distintas: o monitoramento por satélite e o local - no qual a comunidade é inserida no processo, o que contribui para o desenvolvimento sustentável.
A inserção dos projetos florestais no EU ETS ainda é uma grande dúvida. A Comissão Européia rejeita projetos nessa área alegando a dificuldade de monitorar a sua permanência. Mas a pressão para que a Europa se torne mais flexível em relação a este tema está aumentando. Um dos fortes argumentos apresentados a favor dos projetos florestais é o avanço das tecnologias de monitoramento por satélite.
Os países Africanos são os principais interessados, pois não se beneficiam da implantação de projetos de MDL de caráter industrial, mas podem, por outro lado, levar vantagens com a inclusão dos projetos florestais e agrícolas no ETS.
Charlotte Streck, ex-economista do Banco Mundial e co-fundadora da Climate Focus, acredita que, a complexidade das metodologias para projetos florestais no MDL tem feito com que os países Africanos se voltem para o mercado voluntário. Isto está ocorrendo inclusive com grandes projetos como o Green Belt, de Wangari Mathai.
Eric Bettlehmein, presidente da Sustainable Forestry Management, afirma que, se os benefício dos projetos florestais continuarem a ser contestados, na metade do século não teremos nada além de ratos e baratas para conviver. “O maior setor para mitigar as mudanças climáticas (florestal) é adicional e verificável. Kyoto deve ser também uma ferramenta para o desenvolvimento sustentável, não só para o clima”, conclui.
(Por Fernanda Müller,
CarbonoBrasil, 24/10/2007)