Artigo - As discussões eletrônicas e suas estratégias quanto ao mercado de carbono
mercado de carbono
2007-10-24
É fundamental que a discussão sobre finanças e investimentos sócio-ambientais possa ser levada adiante nos mais diversos fóruns. Muitas pessoas não têm conhecimento técnico sobre o assunto e ficam inibidas de se apresentarem ao debate, e de contribuir para os trabalhos porque pensam não ter condições para manter o nível técnico dos financistas.
Se pretendermos fazer deste debate um nicho de técnicos e especialistas, será muito difícil ampliá-lo para que o tema "finanças sócio-ambientais" chegue às comunidades e à mobilização da sociedade em busca de soluções. Daí a importância em traduzir e esclarecer o significado da palavra inglesa "commodities" e toda gama de expressões que compõe a dialética econômico-financeira.
Tal debate deve acontecer sem que ocorram boicotes as palestras e cursos, acusações levianas e interferências nas metodologias das atividades educacionais que propomos. Há uma histeria ideológica que abomina a palavra "commodities" e mascara a essência da discussão, ou seja: estamos numa economia de mercado, então é justo que todos possam compreender como se dão as forças que determinam esse tão famigerado sujeito "capetalista" chamado mercado.
Classificamos tais atitudes reacionárias, dos que tentam obstruir nossa caminhada, como sintomas da mais profunda xenofobia do Século XXI. É natural e sintomático, perfeitamente compreensível o pavor da palavra "commodities", mas é necessário, também, entendermos a posição de quem está tentando caminhar para a discussão. Sob hipótese alguma deve haver constrangimentos e nem falsas interpretações, uma vez que os Fóruns BECE-REBIA não dependem de governos para sobreviver nem tampouco estão sob o domínio da iniciativa privada. É uma proposta da Sociedade Civil Organizada, o que garante a legitimidade e sustentabilidade a longo prazo dos trabalhos, independente dos atropelos e desentendimentos das autarquias e interesses econômicos de alguns particulares que tentam inutilmente nos boicotar.
Temas como a implementação do MDL- Mecanismos de Desenvolvimento Limpo são também bastante subjetivos. Localizar o ponto exato da formação dos créditos de carbono, entre outros aspectos que envolvem conhecimento técnico científico multi e interdisciplinar, serão tratados didaticamente pelos Fóruns BECE-REBIA e seus Núcleos de Estudos com respeito ao direito de informação dos mortais cidadãos.
Entendemos que todos têm seus pontos de vista e enfoques técnicos que merecem atenção, assim vamos consolidando uma nova visão. Estamos empenhados em discutir propostas concretas para encaminharmos as soluções econômicas eminentemente brasileiras, sem que seja necessário – sempre – comprarmos inventos e tecnologias dos estrangeiros.
Nossas inquietações poderão ser melhores e competentemente atendidas, se trabalharmos coletivamente com princípios éticos, se dividirmos, se compartilharmos conhecimento. O que certamente contribuirá para a manutenção do nível técnico dos debates, publicamente constatado no mundo real por muitos dos que estão aqui nesta grande teia. Afinal, o processo de discussão é uma prática do desenvolvimento pessoal e coletivo. O problema das mudanças climáticas e demais problemas ambientais possuem uma envergadura biosférica, por isso são problemas mundiais: de todo o gênero humano. Transcendendo, assim, as mesquinharias raciais e invejeiras que corroem o desenvolvimento de uma consciência verdadeiramente planetária.
Outros ainda necessitam de encorajamento não só para participarem ativamente, mas também para receberem orientação de quem tem as informações, para poderem dar continuidade aos projetos e pesquisas que estão realizando e construindo. Os que puderem, que assessorem os que estão necessitando de luzes – informação e orientação competente – para encontrar caminhos dentro dos conceitos da pro-atividade e cidadania genuinamente brasileiras.
Particularmente, temos todo interesse em discutir sobre as políticas de guerra, compra de armamentos e nos impactos dos gases emitidos na camada de ozônio, e em especial o impacto dos títulos "Créditos de Carbono" no mercado financeiro. Por sua vez, para alguns, "emissão de guerras", não têm nada a ver com mudanças climáticas ou lavagem de dinheiro no sistema financeiro. Alguns podem achar que estamos querendo fazer provocações, ou criar um debate fora do contexto ambientalista - por quê? Porque somos palestinos, judeus, alemães, negros, amarelos etc.
Sem restrições, somos todos, euroasiafroamericanos, filhos da biosfera; e, como tais, devemos ampliar nossa percepção e tolerância para compreendermos algo fundamental e que está além das separatistas fronteiras raciais: o gênero humano.
Do que adiantam os esforços da ONU? Qual o valor das marchas feitas por milhões de terráqueos pela paz mundial e de todos os esforços de cidadania e solidariedade humana, se o cowboy texano – o imperador teleguiado da industria petroleira americana – faz o que quer e bem entende, ignorando tudo e a todos? Vamos esperar o desfecho e ver se os prognósticos lúgubres se confirmam? O mundo está estupefato e paralisado de horror. Hiroshima, Nagasaki, Gaza, Cisjordânia, Iraque, Líbano – entre outros – são fantasmas que não assustam os senhores do petróleo e das armas. Eles se alimentam disso. Vivem disso... desse negócio.
Sabemos que a inteligência e a competência brasileira são tão boas – ou melhor – quanto a dos estrangeiros que tem sabido em muitas nações valorizar a existência de pesquisadores autodidatas, gente que sabe fazer e realizar e que muitas vezes são barrados no baile. Os nascidos depois de 1980, certamente estarão no centro desse turbilhão que são as mudanças do clima e cujo colapso atmosférico previsto é previsto para a década de 2020 em diante.
Brasilidade, liderança Sul-Americana, cidadania, orgulho nacional, auto-estima são alguns novos diplomas que começamos – felizmente – a reconhecer e a utilizar sem desconfortos ou medos. Quantas pessoas importantes e de excelente formação técnica e profissional estarão se apresentando para esta ocasião? Uma infinidade!
Vamos formar a nova identidade brasileira. A que veio não para se subjugar, mas a que está chegando para dizer quem somos de verdade. O Brasil e a questão sócio-econômico-político-ambiental.
A inteligência brasileira tem amplas condições de sair do subservientismo em que se encontra. Sabemos quanta competência, quanta gente importante – técnica e intelectualmente – está à disposição do povo brasileiro. Poderemos promover essa mudança de comportamento? É claro que sim!
Com certeza, os que aqui participam são pacifistas por natureza, do contrário aqui não estariam. Enfim vamos em frente que atrás vem muita gente!
[1] Releitura adaptada da coletânea “Desafios do Fórum Social Brasileiro de Mudanças Climáticas”, produzida por mim em parceria com Gert Roland Fischer, Maria Helena Batista Murta e Marcelo Baglione, num momento em que sofri perseguições político-ideológicas e discriminação racial, sexista e religiosa por defender os interesses econômicos das minorias.
(Por Amyra El Khalili*, Rede Brasileira de Informação Ambienta / Livro "A Mais Pura Fonte dos Mananciais" (no prelo), 03/10/2007)
(*) Amyra El Khalili* é economista, presidente do Projeto BECE (sigla em inglês) Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais. É também fundadora e co-editora da Rede Internacional BECE-REBIA (www.bece.org.br ), membro do Conselho Gestor da REBIA - Rede Brasileira de Informação Ambiental, do Conselho Editorial do Portal do Meio Ambiente (www.portaldomeioambiente.org.br ) e da Revista do Meio Ambiente (www.rebia.org.br ). É professora de pós graduação com a disciplina "Economia Sócioambiental" na Faculdade de Direito de Campos de Goytacazes, pela OSCIP Prima Sustentabilidade e MBA pela UNOESC. Indicada para o "Prêmio 1000 Mulheres para o Nobel da Paz" e para o Prêmio Bertha Lutz.
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